quarta-feira, 9 de março de 2011

Essas Mulheres...

Breve postagem sobre o Livro "Segundo Sexo" de Simone de Beauvoir.

Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir

Simone de Beauvoir


Segundo Simone de Beauvoir, todo ser humano do sexo feminino não é necessariamente mulher, cumpre-lhe participar dessa realidade misteriosa e ameaçada que é a feminilidade.

Escreve a autora em seu livro "O Segundo Sexo” que, se hoje não há mais feminilidade, é porque nunca houve. Significará isso que a palavra "mulher" não tenha nenhum conteúdo? 

Escreve a autora que é o que afirmam vigorosamente os partidários da filosofia das luzes, do racionalismo, do nominalismo: as mulheres, entre os seres humanos, seriam apenas os designados arbitrariamente pela palavra "mulher".

Segundo Beauvoir sua idéia é que todos, homens e mulheres, o que quer que sejamos, devemos ser considerados seres humanos pois, segundo a autora, a mulher aparece como o negativo, de modo que toda determinação lhe é imputada como limitação, sem reciprocidade.

Ainda escreve a autora que a mesma de agastou, por vezes, no curso de conversações abstratas, ouvir os homens dizerem-se: "Você pensa assim porque é uma mulher". Mas eu sabia que minha única defesa era responder: "penso-o porquê é verdadeiro", eliminando assim minha subjetividade, pois, se respondesse que o outro pensa assim por que é homem, entraria no debate de classes entre homens e mulheres, levando a contestar e os diferenciar por suas fisiologias.

Simone de Beauvoir cita alguns pensamentos de alguns autores importantes em nossa história ao qual nos mostra claramente que a opressão das mulheres é algo que não surge nesta sociedade em virtude de algum acontecimento, mas que estes autores consideram as mulheres como sofrendo de alguma deficiência natural e a autora mostra esses pensamentos citando Aristóteles quando este diz que "A fêmea é fêmea em virtude de certa carência de qualidades" e também Sto. Tomás, quando o decreta que a mulher é um homem incompleto, um ser "ocasional". É o que simboliza a história do Gênese em que Eva aparece como extraída, segundo Bossuet, de um "osso supranumerário" de Adão.

Beauvoir cita o pensamento de Michelet para complementar seu pensamento anterior onde este escreve que a humanidade é masculina e o homem define a mulher não em si, mas relativamente à êle; ela não é considerada um ser autônomo. "A mulher, o ser relativo...".

E embora Beauvoir tenha discorrido anteriormente sobre a opressão da mulher durante toda a sua existência a mesma quer deixar claro que o propósito do livro intitulado “O Segundo Sexo” é entender de onde vem essa submissão da mulher?

A autora escreve que existem casos em que uma categoria conseguiu dominar totalmente outra categoria impondo suas leis a minoria ou as perseguindo, mas, escreve Beauvoir, as mulheres não podem ser consideradas um caso de minorias como os Judeus na Alemanha ou os Negros nos Estados Unidos, pois há tantos homens como mulheres na terra.

Simone de Beauvoir ainda escreve a relação de opressão dos proletários e das mulheres e diz que, nem sempre houve proletários, mas sempre houve mulheres e estas são mulheres em virtude de suas estruturas fisiológicas e por mais longe que remonte a história, as mulheres, sempre estiveram subordinada aos homens e sua dependência, segundo a autora, não é conseqüência de um evento ou de uma evolução, ela não aconteceu, por que sempre foi.

A autora escreve que não há manifestações de mulheres, assim como de negros, de judeus e etc no qual os mesmos dizem “nós”, a não ser, em congressos específicos e manifestações abstratas, além disso, nada mais fazem para se livrar da opressão em busca da autonomia.

A ação das mulheres, segundo Beauvoir, nunca passou de uma agitação simbólica, só ganharam o que os homens concordaram em lhes conceder, elas nada tomaram apenas receberam. Escreve a autora que, as mulheres não têm passado, não tem história, nem religião própria, não têm como os proletários, uma solidariedade de trabalho e interesses as mulheres, vivem dispersas entre os homens, ligadas pelo habitat, pelo trabalho, pelos interesses econômicos, pela condição social a certos homens – pai ou marido – mais estreitamente do que as mulheres.

Segundo a autora, as mulheres burguesas são solidárias aos aos homens burgueses e não as  mulheres proletárias; brancas dos homens brancos e as mulheres pretas dos homens pretos.

Os proletários, segundo Beauvoir, poderiam propor o trucidamento da classe dirigente,  um judeu, um negro fanático, poderiam sonhar em possuir o segredo da bomba atômica e constituir uma humanidade inteiramente judaica ou inteiramente negra: mas mesmo em sonho a mulher não pode exterminar os homens, pois os laços que as une com seus opressores não é comparável a nenhum outro.

A divisão do sexo, segundo Beauvoir, é, com efeito, um dado biológico e não um momento da história humana e mesmo a necessidade biológica – desejo sexual ou desejo de posteridade – que coloca o macho sob a dependência da fêmea não libertou socialmente a mulher.

O senhor e o escravo estão unidos por uma necessidade econômica recíproca que não liberta o escravo, pois, escreve a autora, na relação entre o senhor e o escravo, o primeiro não põe a necessidade que têm do outro, ele detém o poder de satisfazer essa necessidade e não a mediatiza, ao contrário, o escravo, na dependência, esperança ou medo, interioriza a necessidade que tem do senhor; a urgência da necessidade, ainda que igual a ambos, sempre favorece o opressor contra o oprimido: é o que explica a libertação da classe proletária, por exemplo, tenha sido tão lenta.

A mulher, segundo Beauvoir, sempre foi, senão escrava do homem ao menos sua vassala, os dois sexos nunca partilharam o mundo em igualdade de condições; e ainda hoje, embora sua condição esteja evoluindo, a mulher arca com um pesado handicap. Em quase nenhum país as mulheres são tratadas com igualdade aos homens e muitas vezes este último a prejudica consideravelmente e um grande hábito que impede que encontrem nos costumes sua expressão concreta, escreve a autora.

Economicamente, homens e mulheres constituem como se fosse duas castas; em igualdade de condições, os primeiros têm situações mais vantajosas, salários mais altos, maiores possibilidades de êxito que suas concorrentes recém-chegadas, segundo Beauvoir.

Os homens ocupam na política, maior numero de lugares e postos mais importantes, escreve a autora e essa tradição de uma sociedade machista é passada as crianças em forma de educação onde o presente envolve o passado e no passado toda a história foi feita pelos homens e mesmo no momento que as mulheres começam a tomar parte na elaboração do mundo, esse mundo, ainda é um mundo que pertence aos homens. Eles bem o sabem e elas mal duvidam, escreve Beauvoir.

As mulheres vivem na submissão de aceitar todas as vantagens que a aliança com a casta superior atribuirá a elas, explica Beauvoir, como por exemplo, o homem suserano protegerá materialmente a mulher vassala e se encarregará de justificar sua existência: com o risco econômico, ela esquiva do risco metafísico de uma liberdade que deve inventar seus fins sem auxílios e ainda escreve a autora que, ao lado de toda a pretensão do individuo em se afirma enquanto sujeito, que é uma pretensão ética, há também a tentação em fugir de sua liberdade e de constituir-se em coisa.

Mas Beauvoir afirma que isso se dá, por que embora seja um caminho nefasto por que passivo, alienado, perdido, onde o individuo é preso por vontades estranhas, cortado de sua transcendência e frustrado de todo o valor é um caminho fácil, pois evitam-se com ele a angústia e a tensão da existência autenticamente assumida. O homem que constitui a mulher como outro encontrara, nela, profundas cumplicidades e sendo assim, escreve a autora, a mulher não se reivindica como sujeito, por que não possui os meios concretos para tanto, por que sente o laço necessário que a prende ao homem sem reclamar a reciprocidade dele, e porque, muitas vezes, se compraz no seu papel de outro.

E diante de todo esse pensamento a respeito da submissão da mulher ao homem, Simone de Beauvoir coloca um problema em questão, para melhor entendermos esse pensamento, como essa necessidade de submissão e acomodação da mulher se deu?

Sendo assim, quer entender a autora, como que o homem venceu desde o inicio? Por que esse mundo sempre pertenceu aos homens e somente agora começa a mudar? Será um bem essa mudança? Trará ou não a partilha igual do mundo entre homens e mulheres?

Simone de Beauvoir cita Poulain de Ia Barre para explicar o por que de sempre existir essa opressão das mulheres em relação aos homens e justifica que legisladores, sacerdotes, filósofos,  escritores e sábios empenharam-se em demonstrar que a condição subordinada da mulher era desejada ao céu e proveitosa ao e cita Platão entre outros, quando esse agradecia aos Deuses, a maior se lhe afigurava o fato de ter sido criado livre e não escravo e, a seguir,  o fato de ter sido criado homem e não mulher. Sendo assim, os homens compilaram os direitos de forma a favorecer os homens e os jurisconsultores transformaram as leis em princípios.

Segundo Beauvoir, as religiões forjadas pelos homens remetem esse desejo de dominação buscaram argumentos nas lendas de Eva, Pandora, puseram a filosofia e a teologia a serviço de seus desígnios, como vimos pelas frases citadas de Aristóteles e St. Tomás de Aquino e desde as antiguidades, moralistas e satíricos, deleitaram-se em pintar o quadro das fraquezas femininas.

Beauvoir escreve que apenas no Século XVIII os democratas encaram o problema da submissão da mulher com objetividade e Diderot afirma que a mulher, assim como o homem, é um ser humano, mas é somente no século XIX, uma das conseqüências da revolução industrial é a participação das mulheres no trabalho produtor e nesse momento, escreve a autora, as reivindicações feministas saem do campo teórico, encontram fundamentos econômicos; seus adversários fazem-se mais agressivos e a burguesia se apega a velha moral que vê na solidez da família, a garantia da propriedade privada: exigindo a presença da mulher no lar tanto mais vigorosamente quanto sua emancipação torna-se verdadeiramente uma ameaça e mesmo dentro da classe operária os homens tentaram frear essa libertação por verem as mulheres como perigosas concorrentes, habituadas que estavam a trabalhar por salários mais baixos.

Escreve Beauvoir que a fim de provar a inferioridade da mulher, os antifeministas, apelaram não somente para a religião, filosofia e teologia, como no passado, agora eles apelam para a ciência: biologia, psicologia experimental etc.

Simone de Beauvoir escreve que a casta anteriormente dominadora que manter mulheres e negros no lugar que escolheu para eles e as mulheres, segundo a autora, em seu conjunto, são hoje inferiores aos homens, isto é, sua situação oferece-lhes possibilidades menores: o problema consiste em saber se esse estado de coisas deve perpetuar-se e para a autora, muitos homens ainda desejam e, portanto, não se desarmaram ainda.

A burguesia conservadora escreve Beauvoir, continua a ver na emancipação feminina um perigo que lhe ameaça a moral e os interesses e certos homens temem a concorrência feminina e esse pensamento se comprova quando afirmações como a de um estudante no Hebdo-Latim declarava: “Toda estudante que confere uma posição de médico ou advogado rouba-nos um lugar” e escreve a autora que esse rapaz não duvidava em nenhum um momento dos seus direitos sobre o mundo.

Simone de Beauvoir ainda escreve que para todos os que sofrem de complexo de inferioridade, há nisso um linimento milagroso: ninguém é mais arrogante em relação às mulheres, mais agressivo ou desdenhoso do que o homem que duvida de sua virilidade e os que não se intimidam com seus semelhantes mostram-se também muito mais dispostos a reconhecer na mulher seu semelhante.

Segundo a autora, o homem no sentimento democrático, afirma não haver diferença entre ele e sua mulher e afirma que o trabalho do lar é tão digno quanto o seu trabalho e na primeira discussão o mesmo afirma que sua mulher não tem capacidade para ganhar a vida sem ele e escreve Beauvoir que se a questão feminina é tão absurda, isso se dá por que a arrogância masculina fez dela uma querela e quando as pessoas querelam não raciocinam bem.

Segundo Beauvoir é no seio da família que a mulher tem a possibilidade de busca da liberdade desde que a mulher apresenta-se à criança e ao jovem revestida da mesma dignidade social dos adultos masculinos; mais tarde êle sente no desejo e no amor a resistência, a independência, da mulher desejada e amada; casado, ele respeita na mulher a esposa, a mãe, e na experiência concreta da vida conjugal ela se afirma em face dele como uma liberdade. O homem pode, pois, persuadir-se de que não existe mais hierarquia social entre os sexos e de que, grosso modo, através das diferenças, a mulher é sua igual e a incapacidade profissional o homem atribui a natureza da mulher.

Mas a escritora, Beauvoir, diz que os homens ao mesmo tempo em que afirmam quase que com boa-fé que as mulheres são iguais aos homens e nada tem a reivindicar ao mesmo tempo dizem que as mulheres nunca poderão ser como os homens e que suas reivindicações são vãs.

E Beauvoir escreve que, não há como acreditar nos homens quando se esforçam por defender privilégios cujo alcance não mede com relação aos direitos das mulheres desde que mesmo ao homem mais simpático à mulher nunca lhe conhecerá bem a situação concreta.

A autora escreve que é necessário que não nos intimidemos pelos números e pela violência dos ataques dirigidos contra a mulher, nem nos impressionar com os elogios interesseiros que se fazem “a verdadeira mulher”, podemos citar nesse caso o exemplo da música Mulheres de Atenas do cantor e compositor Chico Buarque e a autora diz também para que não nos contaminemos pelo entusiasmo que seu destino suscita entre os homens que por nada no mundo desejariam compartilhá-lo.


Simone de Beauvoir se preocupa em dizer quais condições mostram como a dialética leva ambos a uma discussão de divisão por classe entre homens e mulheres como o fato de ser criada depois de Adão, leitura feita através dos textos bíblicos, e sendo assim é evidentemente um ser secundário, dizem uns; dizem outros, Adão era apenas um esboço e Deus alcançou a perfeição quando criou Eva; seu cérebro é menor, mas é relativamente maior e se Cristo se fez homem foi possivelmente por humildade e a autora mostra como os argumentos sugere imediatamente o seu contrário ao invés que ambos são falhos e a mesma escreve que se quisermos sair desses trilhos, precisamos recusar as noções vagas de superioridade, inferioridade, igualdade que desvirtuam todas as discussões e reiniciar do começo.

A autora escreve que, para elucidar a discussão a respeito de mulheres, são ainda, certas mulheres as mais indicadas para fazê-la.

As mulheres da atualidade que tiveram a sorte de ver-lhes restituída todos os privilégios do ser humano podem dar-se ao luxo da imparcialidade, e a autora diz que, sentimos até a necessidade desse luxo. Não somos mais como nossas predecessoras: combatentes.

Nós, mulheres, escreve Beauvoir, conhecemos mais intimamente do que os homens o mundo feminino, porque nele temos nossas raízes; apreendemos mais imediatamente o que significa para o ser humano o fato de pertencer ao sexo feminino e preocupa-nos mais com o saber. E pergunta a autora, em que o fato de sermos mulher afeta nossas vidas? Apesar de conseguirmos ter consciência de vários outros problemas, nos mulheres, não podemos desprezar os problemas que acercam o universo feminino, como por exemplo, que possibilidades nos foram oferecidas e quais nos foram recusadas ao fato de sermos mulheres? Que destino pode esperar nossas irmãs mais jovens e em que sentido convém orientá-las? Pergunta a autora.

O livro I “O Segundo Sexo” de Simone de Beauvoir surge com a intenção de pesquisar a que pé encontra-se o problema do preconceito contra a mulher em nossa sociedade. E a autora escreve que para fazer um levantamento de dados como este, infelizmente, não tem como não agir sem o preconceito desde que se trata de um problema humano e a própria maneira que a autora põe às questões as perspectivas que a mesma adota pressupõem uma hierarquia de interesses: toda qualidade envolve valores.

A autora escreve que em seu livro um dos pontos de vista mais amiúde adotados é o do bem público de interesse geral cada um entende isso como o interesse da sociedade tal qual deseja manter ou estabelecer, quanto a nós, escreve a autora, estimamos que não há outro bem público senão o que assegura o bem individual dos cidadãos.

Vânia do Canto - Estudante de Filosofia da UEM

Simone de Beauvoir

Referência Bibliografica: 

BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 198