quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Casas de Estudantes de Curitiba apoiam luta dos estudantes de Maringá no debate sobre a CEU-UEM

A Assinatura aconteceu na posse da nova diretoria da Casa do Estudante Luterano Universitário

Curitiba, 24 de outubro de 2009


Ao

Magnífico Prof. Dr. Décio Sperandio

Reitor da Universidade Estadual de Maringá

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C/Cópia:

Diretório Central dos Estudantes – DCE, Gestão 2008/09 – “Bonde do Amor”

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Assunto: Manifestação em Apoio a Criação da Casa de Estudantes na UEM

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Magnífico Reitor,

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A Casa da Estudante Universitária de Curitiba - CEUC; a Casa do Estudante Nipo-Brasileiro de Curitiba - CENIBRA; a Casa do Estudante Luterano Universitário - CELU; a Casa do Estudante Universitário do Paraná – CEU-PR; e o Lar da Acadêmica de Curitiba - LAC, neste ato conjunto manifestam o seu apoio aos estudantes da Universidade Estadual de Maringá em sua luta para a conquista da construção da Casa do Estudante de Maringá - CEUEM.

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Acreditamos que as Casas de Estudante são uma forma de seguridade e apoio aos estudantes, além de ser um importante espaço de socialização, integração e formação. Afinal, as universidades precisam ir além de seus muros.

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Sem mais,

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Aproveitamos para prestar nossos protestos de estima e consideração.

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Atenciosamente.

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Casa da Estudante Universitária de Curitiba – CEUC

Ana Maria Lindner – Presidente

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Casa do Estudante Nipo-Brasileiro de Curitiba – CENIBRA

Tiago Buch – 2º Vice-Presidente

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Casa do Estudante Luterano Universitário – CELU

Edson Luiz Lau Filho – Presidente

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Casa do Estudante Universitário do Paraná – CEU-PR

Elizeu Barroso Alves - Presidente

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Lar da Acadêmica de Curitiba – LAC

Sandra Aika



Fonte: http://canalca.blogspot.com/

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Irmã de Fidel revela que foi informante da CIA

Tirado de: www.vermelho.org.br

Em um livro publicado nesta segunda-feira (26), a irmã de Fidel Castro, Juanita, revela pela primeira vez que trabalhou como agente disfarçada da CIA, em operações contra o governo de seu irmão durante os três anos posteriores à falida invasão da Baía dos Porcos, em 1961. Para operar como agente e transmitir informações, Juanita utilizava o codinome "Donna", aliás, extraído da opera Madame Butterfly, de Puccini.

O livro de memórias, de 432 páginas, se intitula 'Meus irmãos Fidel e Raúl: a história secreta', e foi co-escrito junto à periodista norte-americana de origem hispano María Antonieta Collins. Juanita Castro ditou suas memórias há uns dez anos, mas até agora havia se negado a publicá-las.

Nas páginas do livro, Juanita, hoje com 76 anos - sete anos a menos que Fidel -, conta como, a princípio, foi partidãria da Revolução de 1959, porém, logo se desencantou. Dois anos depois do triunfo dos rebeldes, e após pedidos da esposa do então embaixador do Brasil em Havana e depois chanceler, Vasco Leitão da Cunha, a irmã de Fidel aceitou encontrar-se com um agente da CIA no México, de onde tinha planejado viajar para encontrar-se com sua irmã Emma.

Por esse tempo - e enquanto o governo revolucionário expropriava, de seu irmão mais velho, Ramón, a fazenda da família para explorá-la de acordo com os novos objetivos socialistas - a casa de Juanita já tinha se convertido em um santuário para os anti-comunistas.

Durante sua reunião com o contato da CIA, identificado como Tony Sforza, conhecido como "Enrique", Juanita disse de sua insatisfação com o fato de que muitos militantes e combatentes não comunistas que lutaram para derrubar o ditador Fulgencio Batista estavam sendo excluídos dos principais cargos.

No final da reunião, no Hotel Camino Real da Cidade do México, Juanita Castro já havia concordado em colaborar com a agência de espionagem norte-americana, mas sob uma estrita condição: que nunca a envolveriam em uma operação destinada a "liquidar fisicamente" algum de seus irmãos . "É a minha condição mais importante, eu diria que a única", contou Castro a Sforza, segundo suas memórias. A irmã de Fidel e Raúl, por sua vez, afirmou que jamais aceitou que lhe pagassem pela sua cooperação.

Feito o negócio, sua primeira missão não demorou a chegar: Castro devia encarregar-se de distribuir, no interior da ilha, vários carregamentos de latas de conserva onde seguiam escondidos mensagens e dinheiro para os agentes da CIA dentro de Cuba.

Entre 1961 e 1964, Juanita, basicamente, ajudou a passar mensagens, dinheiro e documentos para o interior da ilha. Segundo seu depoimento, ela foi a pessoa que informou à CIA que os mísseis soviéticos estavam sendo instalados em Cuba. Em 1962, durante seu segundo ano de trabalho secreto, começou a crise dos mísseis. Nunca o mundo esteve tão perto de uma guerra nuclear. Para contactar a Central de Inteligência, a irmã de Fidel e Raúl passava mensagens através de rádio de ondas curtas. As chaves para anunciar sua transmissão, escolhidas por ela, foram as música "Fascinación", de Marchetti, e "Obertura", de Madame Butterfly, de Puccini.

Segundo o jornal El Nuevo Herald, de Miami, que publicou trechos do livro, a CIA decidiu tirar Juanita de Cuba após Virgínia Leitão da Cunha, esposa do embaixador brasileiro, pedir especialmente. A esposa do diplomata, em Brasília, teria informado que Raúl Castro havia visitado sua irmã e deixado claro que já havia um arquivo sobre ela sob o rótulo de "atividades contrarrevolucionárias".

Juanita chegou aos Estados Unidos, em 1964, onde funcionou sua própria farmácia, até 2007, quando se aposentou.

Fonte: Página 12



Francielle Cruz - Comunicação UJS-Maringá

A Educação a Distância no ensino superior público e privado: experiências e contradições.

13 de outubro de 2009

A Educação a Distância no ensino superior público e privado: experiências e contradições

Joanna Paroli*

Dados do Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distância apontam que um em cada 73 brasileiros estuda a distância, em diversos níveis de graduação. Esse número demonstra o quanto, ao longo dos anos, a Educação a Distância (EaD) tornou-se presente no cotidiano da educação, em nosso país. Ela é caracterizada, de acordo com o Decreto 5.622/2005, como uma “modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos”.

Um exemplo interessante sobre educação a distância é o convênio entre o Ministério da Educação e as Secretarias de Políticas para as Mulheres e de Promoção da Igualdade Racial, que resultou no Programa “Gênero e Diversidade na Escola”. Através dele, 14 mil professores/as, de 5ª à 8ª série do fundamental, já passaram por especialização com o objetivo de estabelecer novos olhares na abordagem em sala de aula. Mais de 15 universidades federais têm oferecido o curso, instrumentalizando profissionais da rede pública de ensino para o seu protagonismo na construção de uma educação não sexista, não racista e não homofóbica.

Em 2005, o governo federal lançou o Programa Universidade Aberta do Brasil (UAB), na perspectiva de “ampliar e interiorizar o ensino superior gratuito de qualidade”, bem como oferecer qualificação aos professores da rede básica de ensino. De lá para cá, houve um crescimento estrondoso da EaD, com adesão de diversas IES do país e, em paralelo, muitos problemas em sua concepção. Esse fenômeno foi possível a partir do Decreto do MEC, que permitiu a proliferação de faculdades nessa modalidade com pouco ou nenhum acúmulo sobre a sua função social ou aspectos legais. Hoje, temos mais de 900 mil matrículas na graduação em modalidade EaD e mais algumas milhares de vagas a serem abertas, anualmente. Na capital da Bahia, já são mais de 14 instituições que ofertam graduação nessa modalidade e muitas delas não tem sede no estado, como é o caso da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) que, em parceria com o Ministério da Educação, mantêm pólos para licenciatura em Pedagogia.

Ainda assim, a utilização da EaD pode ser um importante mecanismo na expansão do ensino superior público, se combinado com a construção de mais universidades públicas. Assim como o REUNI e o PROUNI, a experiência da UAB é medida importante por incluir aqueles e aquelas que se mantiveram historicamente renegados a uma ignorância que não acomete as elites. A elas, são resguardados os espaços sociais mais valorizados, como a academia, “guardiã” irretocável dos saberes. A universidade, antes destino dos mais abastados, tem se tornado cada vez mais popular e não se pode diminuir o papel dos movimentos sociais e da UNE em face dessas conquistas.

O setor privado também se apropria da EaD para continuar seu processo de expansão. Isso tem gerado distorções no entendimento sobre EaD e sua importância para o ensino brasileiro. Algumas IES privadas têm visto a modalidade como um mecanismo para diminuir custos e demitir trabalhadores. Mesmo que não o ofereça em sua totalidade, muitas têm introduzido a EaD nas grades curriculares dos seus cursos presenciais. A Portaria do MEC 4.059/2004 respalda essa movimentação, quando autoriza a oferta de até 20% de disciplinas em EaD, na carga horária total do curso. Não aceitaremos essa política! No 12º Conselho Nacional de Entidades de Base da UNE, em janeiro de 2009, foi aprovada resolução sobre EaD que, dentre outras coisas, denuncia a inserção da modalidade EaD em cursos de graduação de forma descontrolada e pede o estabelecimento de um sistema de avaliação para controle da qualidade e da oferta de vagas na educação à distância.

A permissão de convênios e parcerias para o estabelecimento de EaD nas IES privadas é mais um ponto preocupante. No Decreto que regulamento o setor, o 5.622/2005, o art. 26 dispõe que as instituições credenciadas para oferta de cursos à distância podem formar parcerias e abranger bases territoriais diversas. Há brecha na legislação para que as mantenedoras, muitas delas transnacionais, façam a gestão financeira das instituições de ensino com as quais se associe. É preciso intervir contra a injeção de capital estrangeiro e a desnacionalização da educação.

Desafios para um novo marco regulatório

A EaD é realidade em nosso país. Lutar contra ela não ajuda no processo que construímos cotidianamente pela democratização do ensino superior brasileiro. Hoje, o que está colocado é uma legislação insuficiente no que tange a EaD e uma necessidade vital de sua disputa. O movimento educacional deve lutar por um novo marco regulatório do setor, que impeça o credenciamento descontrolado de instituições, sem quaisquer exigências que garantam a qualidade de ensino.

Há dificuldades concretas de estrutura nas IES que ofertam somente EaD, já que, mesmo tendo que oferecê-la, essa não é uma prática constante nos pólos. Faltam condições básicas, como: bibliotecas com acervo mínimo, laboratórios de informática, funcionários e salas de estudo. Lutamos para que no mínimo 30% dos currículos sejam na modalidade semipresencial, com avaliações presenciais, infra-estrutura para ensino, pesquisa e extensão e supervisão de docentes da área de graduação.

Um dos pilares que sustenta a EaD é justamente a idéia de ser uma política continuada de ensino. Por isso, defendemos que ela seja autorizada prioritariamente para cursos de pós-graduação e profissionalizantes, utilizando critérios que garantam sempre a qualidade da educação ofertada. Para cursos de graduação, entendemos sua justificativa de abertura apenas para regiões afastadas dos grandes centros urbanos. É descabido o número excessivo de faculdades particulares credenciadas para graduação em EaD nas grandes capitais, onde já pesa o fato de existirem outras tantas em modalidade presencial.

É óbvio que a EaD não é a modalidade que resolve nosso problema final, mas é tático utilizá-la de forma emergencial, no setor público, construindo um conjunto de mudanças que possam garantir sua qualidade. Ela tem falhas que podem ser corrigidas, sem que seja necessária a sua desativação. É importante o papel que ela cumpre ao levar o ensino superior a regiões de difícil acesso e garantir a continuidade dos estudos para além da juventude. Através dela, muitos profissionais tem se especializado, ampliando sua mobilidade no mundo do trabalho, ainda tão injusto. Nossa tarefa é organizar a luta pela desmercantilização do ensino. Hoje, apenas 5% dos/as jovens têm acesso à universidade pública. A UAB é mais um passo para tornar público o ensino superior, mas é necessário avançar.

A Conferência Nacional de Educação pode ser um importante espaço de debate e disputa pela regulamentação da EaD. É imprescindível que os setores que compõem o movimento educacional unifiquem uma agenda pela democratização do ensino superior público, que passa também por avaliarmos as contribuições dessa modalidade para a educação brasileira.

Todo direito estudantil deve ser assegurado!

O estudante de graduação em EaD também é universitário. A ele, devem ser garantidas as mesmas políticas e direitos acessíveis aos demais estudantes de cursos presenciais, seja de universidades públicas ou privadas, como: assistência estudantil, meia-entrada e o meio passe no sistema de transporte público. Estes foram benefícios conquistados com muita luta e também surgiram de uma preocupação em garantir uma formação continuada e sistêmica, com acesso amplo ao lazer e aos bens culturais.

Casos de discriminação aos estudantes da rede EaD são constantes e não podem ser tolerados. Um episódio, em especial, tornou-se emblemático. No mês de setembro de 2009, estudantes de EaD, em Salvador, protestaram contra a discriminação sofrida ao utilizar o cartão de meia passagem do SalvadorCard, sistema de bilhetagem eletrônica do serviço de transporte municipal. Sem qualquer aviso prévio, o SETPS resolve fazer valer a Lei Municipal 6.324/2003, que admite a meia passagem apenas para alunos com freqüência diária, em cursos presenciais. De maneira repentina, milhares de estudantes soteropolitanos perderam um direito que, se não estava garantido em Lei, já o era por senso comum, e muitos deles abandonaram seus cursos, sem perspectiva de retorno. Nesse caso, a extensão da meia passagem é urgente, mas como assegurar que os estudantes de EaD não terão seus direitos arrancados, ou mesmo, como garantir igualdade de condições destes em comparação aos que cursam a modalidade presencial?

A confusão é nítida. Como não há muito debate sobre EaD nas entidades estudantis e uma dificuldade latente em organizar o movimento nessas IES, os alunos da modalidade estão à mercê dos empresários, lobistas e conservadores. É tempo da UNE e das UEE’s serem vanguarda na formulação política desse setor, disputando seus marcos regulatórios, fortalecendo nossa agenda pela desmercantilização do ensino e tornando-se referência para esses estudantes, também.

Não interessa o que dizem as elites econômicas do país. Nós temos posição. Estamos ao lado dos estudantes, inclusive dos que aderem à EaD, trabalhadores e trabalhadoras de um país ainda desigual.

Joanna Paroli é Diretora de Universidade Privadas da UNE e militante da Marcha Mundial das Mulheres

Discurso do Presidente LULA na 64ª sessão da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu a 64ª sessão da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, comentando assuntos como a crise econômica global, reforma das instituições multilaterais e a luta contra as mudanças climáticas.

Confira, na íntegra, o discurso do presidente brasileiro.

Meus cumprimentos ao Presidente da Assembléia Geral, Ali Treki, ao Secretário-Geral, Ban Ki-moon, e a todos Chefes de Estado e delegados presentes.

Senhoras e senhores,
A Assembléia Geral das Nações Unidas tem sido, e deve ser cada vez mais, o grande foro de debate sobre os principais problemas que afligem a humanidade.

Quero abordar aqui três questões cruciais, que me parecem interligadas. Três ameaças que pairam sobre nosso planeta: a persistência da crise econômica, a ausência de uma governança mundial estável e democrática e os riscos que a mudança climática traz para todos nós.

Senhor Presidente,
Há exatamente um ano, no limiar da crise que se abateu sobre a economia mundial, afirmei desta tribuna que seria um grave erro, uma omissão histórica imperdoável, cuidarmos apenas das conseqüências da crise sem enfrentarmos as suas causas.

Mais do que a crise dos grandes bancos, essa é a crise dos grandes dogmas.

O que caiu por terra foi toda uma concepção econômica, política e social tida como inquestionável.

O que faliu foi um insensato modelo de pensamento e de ação que subjugou o mundo nas últimas décadas.

Foi a doutrina absurda de que os mercados podiam auto-regular-se, dispensando qualquer intervenção do Estado, considerado por muitos um mero estorvo. Foi a tese da liberdade absoluta para o capital financeiro, sem regras nem transparência, acima dos povos e das instituições. Foi a apologia perversa do Estado mínimo, atrofiado, fragilizado, incapaz de promover o desenvolvimento e de combater a pobreza e as desigualdades. A demonização das políticas sociais, a obsessão de precarizar o trabalho, a mercantilização irresponsável dos serviços públicos.

A verdadeira raiz da crise foi o confisco de grande parte da soberania popular e nacional - dos Estados e dos governos democráticos - por circuitos autônomos de riqueza e de poder. Afirmei que era chegada a hora da política.

Disse que governantes - e não tecnocratas arrogantes - deveriam assumir a responsabilidade de enfrentar a desordem mundial.

O enfrentamento da crise e a correção de rumo da economia mundial não poderiam ficar apenas a cargo dos de sempre. Os países desenvolvidos - e os organismos multilaterais onde eles eram hegemônicos - foram incapazes de prever a catástrofe que se iniciava e, menos ainda, de preveni-la.

Os efeitos da crise se espalharam por todo o mundo, golpeando inclusive, e sobretudo, àqueles que há anos vinham reconstruindo suas economias com enormes sacrifícios. Não é justo que o custo da aventura especulativa seja assumido pelos que nada têm a ver com ela - os trabalhadores e as nações pobres ou em desenvolvimento.

Passados doze meses, constatamos que houve alguns progressos, mas que persistem muitas indefinições. Ainda não há uma clara disposição para enfrentar, no âmbito multilateral, as graves distorções da economia global.

O fato de ter sido evitado o colapso total do sistema parece ter provocado em alguns um perigoso conformismo.

A maioria dos problemas de fundo não foi enfrentada. Há enormes resistências em adotar mecanismos efetivos de regulação dos mercados financeiros.

Países ricos resistem em realizar reformas nos organismos multilaterais, como o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial. É incompreensível a paralisia da Rodada de Doha, cujo acordo beneficiará, sobretudo, as nações pobres. Há sinais inquietantes de recaídas protecionistas. Pouco se avançou no combate aos paraísos fiscais.

Mas muitos países não ficaram de braços cruzados.

O Brasil - um dos últimos, felizmente, a sentir os efeitos da crise - é hoje um dos primeiros a sair dela.

Não fizemos nenhuma mágica. Simplesmente havíamos preservado nosso sistema financeiro do vírus da especulação. Havíamos reduzido nossa vulnerabilidade externa, passando da condição de devedores à de credores internacionais. Decidimos, junto com outros países, aportar recursos para que o FMI empreste dinheiro aos países mais pobres sem os condicionamentos inaceitáveis do passado.

Mas, sobretudo, desenvolvemos antes da crise, e depois que ela eclodiu, políticas anticíclicas. Aprofundamos nossos programas sociais, especialmente os de transferência de renda. Aumentamos os salários acima da inflação. Estimulamos, por meio de medidas fiscais, o consumo para impedir que se detivesse a roda da economia.

Já saímos da breve recessão. Nossa economia retomou seu ímpeto e anuncia um 2010 promissor. As exportações recuperam seu vigor. O emprego se recompõe de forma extraordinária. O equilíbrio macroeconômico foi preservado sem afetar as conquistas populares.

O que o Brasil e outros países demonstraram é que também nos momentos de crise precisamos realizar audaciosos programas sociais e de desenvolvimento.

Mas não tenho a ilusão de que poderemos resolver nossos problemas sozinhos, apenas no espaço nacional. A economia mundial é interdependente. Estamos todos obrigados a atuar além de nossas fronteiras. Por isso, é imprescindível refundar a ordem econômica mundial.

Nas reuniões do G20 e nos muitos encontros que mantive com líderes mundiais tenho insistido sobre a necessidade de irrigar a economia mundial com importantes créditos. Tenho defendido a regulação financeira, a generalização de políticas anticíclicas, o fim do protecionismo, o combate aos paraísos fiscais.

Com a mesma determinação, meu país propõe uma autêntica reforma dos organismos financeiros multilaterais.

Os países pobres e em desenvolvimento têm de aumentar sua participação na direção do FMI e do Banco Mundial. Sem isso não haverá efetiva mudança e os riscos de novas e maiores crises serão inevitáveis. Somente organismos mais representativos e democráticos terão condições de enfrentar complexos problemas como os do reordenamento do sistema monetário internacional.

Não é possível que, passados 65 anos, o mundo continue a ser regido pelas mesmas normas e valores dominantes quando da conferência de Bretton Woods.

Não é possível que as Nações Unidas, e seu Conselho de Segurança, sejam regidos pelos mesmos parâmetros que se seguiram à Segunda Guerra Mundial.

Vivemos um período de transição no âmbito internacional.

Caminhamos em direção ao mundo multilateral. Mas também multipolar, seguindo as experiências de integração regional, como ocorre na América do Sul com a constituição da Unasul (União das Nações Sul-Americanas).

Esse mundo multipolar não será conflitante com as Nações Unidas.

Ao contrário. Poderá ser um fator de revitalização da ONU.

De uma ONU com a autoridade política e moral para solucionar os conflitos do Oriente Médio, garantindo a coexistência de um Estado Palestino com o Estado de Israel.

De uma ONU que enfrente o terrorismo sem estigmatizar etnias e religiões, mas atacando suas causas profundas e promovendo o diálogo de civilizações.

De uma ONU que assuma a ajuda efetiva a países - como o Haiti - que buscam reconstruir sua economia e seu tecido social depois de haver recuperado a estabilidade política.

De uma ONU que se comprometa com o renascimento africano que hoje assistimos.

De uma ONU capaz de adotar políticas eficientes de preservação e ampliação dos Direitos Humanos.

De uma ONU que possa avançar no caminho do desarmamento estabelecendo um real equilíbrio entre este e a não-proliferação.

De uma ONU que lidere cada vez mais as iniciativas para preservar o ambiente.

De uma ONU que, por meio do Ecosoc (Conselho Econômico e Social das Nações Unidas), incida nas definições sobre o enfrentamento da crise econômica.

De uma ONU suficientemente representativa para enfrentar as ameaças à paz mundial, por meio de um Conselho de Segurança renovado, aberto a novos membros permanentes.

Senhor Presidente,
Não somos voluntaristas.

Mas, sem vontade política não se pode enfrentar e corrigir situações que conspiram contra a paz, o desenvolvimento e a democracia.

Sem vontade política persistirão anacronismos como o embargo contra Cuba.

Sem vontade política continuarão a proliferar golpes de Estado como o que derrocou o presidente constitucional de Honduras, José Manuel Zelaya, que se encontra, desde segunda-feira, refugiado na embaixada do Brasil em Tegucigalpa. A comunidade internacional exige que Zelaya reassuma imediatamente a Presidência de seu país e deve estar atenta à inviolabilidade da missão diplomática brasileira na capital hondurenha.

Sem vontade política, por fim, crescerão as ameaças hoje representadas pela mudança climática no mundo.

Todos os países devem empenhar-se em realizar ações para reverter o aquecimento global. Preocupa-nos a resistência dos países desenvolvidos em assumir sua parte na resolução das questões referentes à mudança do clima. Eles não podem lançar sobre os ombros dos países em desenvolvimento responsabilidades que lhes são exclusivas.

O Brasil está cumprindo a sua parte. Vamos chegar a Copenhague com alternativas e compromissos precisos.

Aprovamos um Plano de Mudanças Climáticas que prevê uma redução de 80% do desmatamento da Amazônia até 2020. Diminuiremos em 4,8 bilhões de t a emissão de CO2, o que representa mais do que a soma dos compromissos de todos os países desenvolvidos juntos. Em 2009 já podemos apresentar o menor desmatamento dos últimos 20 anos.

A matriz energética brasileira é das mais limpas do planeta. Quarenta e cinco por cento da energia consumida no País é renovável. No resto do mundo apenas 12% é renovável, enquanto que nos países da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) essa proporção não supera 5%. Oitenta por cento de nossa eletricidade provém igualmente de fontes renováveis.

Vinte e cinco por cento de etanol está misturado à gasolina que consomem nossos veículos. Mais de 80% dos carros produzidos no País têm motor flex (bicombustível), o que permite a utilização indiscriminada de gasolina ou álcool.

O etanol brasileiro e os demais biocombustíveis são produzidos em condições cada vez mais adequadas, sobretudo a partir do zoneamento agroecológico que acabamos de implantar no país. Proibimos a cana-de-açúcar e as usinas de álcool em áreas de vegetação nativa. A decisão vale para toda Amazônia e nossos principais biomas.

O plantio da cana-de-açúcar não ocupa mais do que 2% de nossas terras agricultáveis. Distinto de outros biocombustíveis, ele não afeta nossa segurança alimentar nem compromete o equilíbrio ambiental.

Empresários, trabalhadores e governo firmaram um importante compromisso para assegurar o trabalho decente nos canaviais brasileiros.

Todas essas preocupações fazem parte da política energética de um País auto-suficiente em petróleo e que acaba de descobrir grandes reservas que nos colocarão na vanguarda da produção de combustíveis fósseis.

Mas, o Brasil não renunciará à agenda ambiental para ser apenas um gigante do petróleo. Queremos consolidar nossa condição de potência mundial da energia verde.

Por outro lado, deve-se exigir dos países desenvolvidos metas de redução de emissões muito mais expressivas do que as atuais, que representam mera fração do que é recomendado pelo Painel Inter-governamental para a Mudança do Clima.

Causa-nos também profunda preocupação a insuficiência dos recursos, até agora anunciados, para as necessárias inovações tecnológicas que preservarão o ambiente nos países em desenvolvimento.

A resolução desses e outros impasses só ocorrerá se as ameaças ligadas à mudança climática forem enfrentadas a partir da compreensão de que temos responsabilidades comuns, mas diferenciadas.

Senhor Presidente,
Os temas que estão no centro de nossas preocupações - a crise financeira, a nova governança mundial e a mudança do clima - têm um forte denominador comum.

Ele aponta para a necessidade de construir uma nova ordem internacional, sustentável, multilateral, menos assimétrica, livre de hegemonismos e dotada de instituições democráticas. Esse mundo novo é um imperativo político e moral.

Não basta remover os escombros do modelo que fracassou, é preciso completar o parto do futuro.

É a única forma de reparar tantas injustiças e de prevenir novas tragédias coletivas.

Obrigado.