terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Indignação seletiva

Quando se cogitou a possibilidade de aumentar o número de cadeiras da Câmara de 15 para 21 vereadores – número considerado ideal para uma cidade com mais de 300 mil habitantes -, um movimento denominado “Sociedade Organizada” (representantes da indústria e comércio, setores religiosos e outros) aprontou o maior chilique.

Em nome da suposta economia de dinheiro público – tese facilmente desmentida, pois a porcentagem do repasse para a Câmara é o mesmo e independe da quantidade de edis -, investiram em vultuosas propagandas na tv, rádio e outdoors contrárias ao aumento. Também pagaram militantes para protestar na Câmara, devidamente uniformizados com camisetas pretas.

O interesse dos defensores da democracia na permanência das 15 cadeiras era óbvio: com menos vereadores, fica mais fácil aprovar os projetos de interesse da turma.

Com a mudança de governo (continuidade, na verdade), presenciamos o aumento excessivo de cargos de confiança na Prefeitura de Maringá. São aqueles contratados sem concurso público, apadrinhados politicamente. O apoio amplo ao candidato vitorioso, inclusive dos derrotados, obrigou o inchaço da máquina administrativa. Somente assim para acomodar a todos – ou quase.

O que isso representa em termos financeiros? R$ 33,3 milhões de reais a mais por ano. Dinheiro que poderia ser investido na valorização dos servidores de carreira ou na melhoria dos serviços públicos básicos.

A “Sociedade Organizada”, por enquanto, nada diz. Movimentos genéricos como o “Dia do Basta”, sem alvo definido, também não. Confirmam na prática que estão ao lado dos mandatários da cidade, e não do povo. Mas era de se esperar. Este blog e outros acusados de receberem o “mensalinho” da oposição já sabiam. A independência falaciosa dos combatentes da corrupção não resiste aos fatos.
Aumentar CCs pode, aumentar o número de vereadores não pode. Os interesses da "Sociedade Organizada" coincidem com quem manda na cidade.
Aumentar CCs pode, aumentar o número de vereadores não pode. A “Sociedade Organizada” se manifesta somente quando lhe é conveniente.


Apenas relembrando, a UJS e a UMES participaram do debate favoráveis ao aumento do número de vereadores e à manutenção dos subsídios pagos a eles.

Cultura de elite e a revolução egoísta


“Cultura de elite”. Esse era o fascinante termo que eu mesmo formava -- assincronicamente, porque já existia -- diante das primeiras análises críticas com as quais me deparava na faculdade. Por mais que fosse logo cedo perder todo o amor por aquele curso, até hoje vejo apaixonadamente as ligações entre uma cultura elitista e uma linguagem elitista, manifestada pelo preconceito linguístico enraizado na sociedade de forma xenófoba, racista e classista.

Nesta sociedade se permeiam alguns elementos que, com a justificativa de que certas partes da cultura -- a ver, o BBB -- são “fúteis” e que são “alienação”, praticam uma certa abstinência cultural com a qual lidam como se fosse um traço de sua personalidade. Contudo, continuam a reproduzir discursos machistas, cis-heterossexistas, racistas, classistas; isto é, discursos fúteis e alienados. Há uma evidente desconexão entre aquilo que problematizam no conteúdo “do povão” e do que problematizam em seus próprios discursos. Ou seja, o problema não está de fato no discurso (do BBB, do povão, ou seu próprio): o problema está no povão. E no que quer que dele parta, para ele seja, ou que ele endosse.

Este elitismo cultural, contudo, não vem de uma elite burguesa com a mesma força que vem de cidadãs e cidadãos de classe média que, munidos de resquícios culturais de sua ascensão recente, decidiram que um certo panteão cultural iria reinar dali em diante: o roque e a MPB (com seu próprio Zeus, Chico Buarque), o Discovery Channel, os livros. Mas muito mais importante do que a sua cultura elitista, americanizada e grafocêntrica, o ponto central desta nata da cultura nacional não era a exaltação destas formas primordiais de cultura, mas sim o ódio constante na direção de qualquer produto de matrizeis culturais designadas como inferiores. E por inferiores, leia-se “pobres e negras”.

Dalí nascia a legião de demônios da elite cultural da classe média brasileira: o RAP e o funk, a televisão (encabeçada pelo Hades da alienação, a Rede Globo), a mídia em vídeo, as formas de comunicação não-verbais como a dança e o discurso oral, a Internet e tudo aquilo que fugisse da matriz burguesa à qual a classe média apaixonadamente se agarrava como sua amada genitora. Se não podia apegar-se aos seus violinos e óperas, ao teatro clássico e aos recitais, ao menos tomaria para si tanta arrogância quanto possível no que tangia moralizar os passos de dança da periferia carioca.

Os jovens roqueiros que arrogantemente destilam o discurso elitista contra qualquer pessoa que por acaso goste de funk parecem muito preocupados em fiscalizar a qualidade e a profundidade das letras que são cantadas nos bailes, e a tecer comentários moralistas sobre seu conteúdo. Contudo, uma vez confrontados com as maravilhosas letras do Velhas Virgens, tudo se justifica. Não pelo tom, pela origem ou pelxs sujeitxs, mas sim pelo fato de que agora constam guitarras.

Desta mesma forma, o Big Brother tornaria-se o grande chamariz de suas críticas a uma cultura futil, “de povão”, que não merece atenção ou cuidado. Mas sobre todas as coisas, o fato de que aquilo é inerentemente uma cultura ruim, não por causa de uma análise crítica da classe média, mas porque assim determinou. Isto é tão central para os mandamentos da elite cultural estabelecida que logo vemos o raciocínio alastrar-se para a música, a dança.

"Pode a desigualdade, segundo Marx e os marxistas, ser superada?"

Sim, a desigualdade, segundo Marx e seus seguidores, pode sim ser superada. Diferente de Locke, Marx não enxerga a pobreza como fruto da “preguiça” do trabalhador, mas como fruto da apropriação de parte de sua força de trabalho pelo burguês. Ou seja, para Marx, a classe burguesa enriquece por que explora a classe proletária, e a classe proletária empobrece por que é explorada pela classe burguesa.

Isso faz com que Marx chame a burguesia de “classe dominante”, e o proletariado de “classe dominada”. Para Marx, existe um movimento histórico de antagonismo entre a classe dominante e a classe explorada, chamado de luta de classes. Aqui voltamos a resposta da pergunta: Sim, a desigualdade pode ser superada. Mas não, o individuo não pode supera-la.

Visto que, para Marx “a grande industria aglomera num mesmo local uma multidão de pessoas que não se conhecem [...] e as reúne num mesmo pensamento de resistência [contra a exploração patronal]”(1), a desigualdade, ou seja, a condição de explorado só pode ser superada com uma união da classe proletária em torno da luta revolucionaria, para Marx, é a classe quem derruba seus exploradores e supera sua condição de explorada, e não o individuo que, sozinho, a vence com seu “próprio esforço”.

Em suma, o individuo não existe fora da classe (como ator social). “Somente na comunidade o individuo tem os meios de desenvolver em todas as direções suas aptidões”(2), diria Marx. É essencial entender isso para entender-se o marxismo. Para o marxismo, não são os indivíduos (isolados), mas sim as classes, as protagonistas da historia.

Portanto, a desigualdade só poderá ser superada pela classe, jamais pelo individuo. Como, sob o capitalismo, é a burguesia a dona dos meios de produção, o proletariado só poderia superar a desigualdade caso expropriasse a burguesia e tomasse para si seus meios de produção.
               
(1)    – “Luta de classes e luta política”, MARX, Karl. 1847
(2)    – “A Ideologia Alemã”, MARX, Karl. 1846.