terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Quem consegue responder como que se deu o processo de submissão da mulher? 

Podemos dizer que toda a história da sociedade foi construída por homens e que desde sempre as mulheres são submissas sendo aos pais, aos maridos ou dentro da sociedade de classes.

Acredito que é uma luta importante, embora, muitos poucos se interessem pela discussão a respeito da opressão das mulheres que muitas vezes ficam a favor de seus opressores contra seus próprios direitos enquanto mulher. Como fazer para conseguir construir uma consciência coletiva contra esses tipos de preconceitos se as pessoas caíram em seus comodismos de aceitar que tudo foi assim e nada irá mudar?

O Coletivo de mulheres do PCdoB se preocupa com o problema da submissão das mulheres e do preconceito ainda existente entre os homens do nosso partido e tenta acabar com essa deficiência de compreensão levando o debate também aos homens, não se limitando apenas as mulheres, e você o que faz para despertar tal consciência a respeito da igualdade enquanto seres humanos que somos e para desmistificar o preconceito existente na cabeça dos homens e das mulheres a respeito do papel da mulher na sociedade?

Leia essa matéria: 

Liége: é preciso combater subestimação da mulher também no PCdoB


Desde que assumiu a missão de inaugurar no PCdoB a Secretaria de Mulheres, Liége Rocha tem se dedicado a uma questão nada fácil de ser equacionada: a subestimação da mulher na sociedade e, em especial, nas instâncias política e de poder. Ciente de que é preciso superar esse obstáculo para conquistar a emancipação feminina, a dirigente tem buscado travar o debate dentro do próprio partido e, ao mesmo tempo, tem levado a visão comunista sobre a questão da mulher a fóruns e instâncias variados.

Segundo ela, dentre as principais tarefas da secretaria neste ano está a realização da 2ª Conferência sobre a Questão da Mulher e o Congresso da UBM. Outra preocupação é investir na formação do coletivo sobre a importância da luta contra o preconceito de gênero. Uma das metas é formular um curso específico sobre o assunto. “Antes, existia uma distância muito grande entre o que o núcleo dirigente pensava, assimilava e incorporava sobre o tema e o conjunto do partido. Essa distância tem diminuído”, assegura. Para ela, a formação ajuda nessa direção. 


Ao mesmo tempo, a secretaria buscará pôr em prática campanhas de filiação específicas, além de acompanhar de perto as principais discussões envolvendo a realidade feminina a serem pautadas no Congresso, no Executivo e nos movimentos sociais.



Nesta entrevista, Liége Rocha fala sobre os próximos desafios e faz um balanço sobre os primeiros anos de existência da secretaria. 


Partido Vivo: Há dois anos, nascia a Secretaria da Mulher do PCdoB. O que mudou de lá para cá?

Liége Rocha: O período, aberto em 2009, quando pela primeira vez o PCdoB passou a ter uma Secretaria da Mulher e um Fórum Nacional Permanente sobre a Questão da Mulher, é bastante positivo. Primeiro porque nós conseguimos a partir da realização da primeira conferência nacional do partido sobre o assunto (2007) – que reuniu em seu processo 11 mil pessoas – fazer com que essa discussão tivesse maior impulso no partido. A partir disso, tivemos maior sensibilização sobre a importância de as mulheres estarem nos espaços de poder e decisão, tanto que nas últimas conferências estaduais que antecederam o 12º Congresso (2009), conseguimos a proporção feminina de 30% em todas as instâncias e também no Comitê Central. E não se trata apenas de preencher uma cota, mas de abrir espaço para mulheres representativas em diversos segmentos da sociedade, com capacidade e estatura suficientes para alcançarem tais posições.

E neste sentido, vale ressaltar o importante papel que as mulheres do partido jogaram tanto nas eleições de 2008 quanto nas de 2010. Naquele ano, o lançamento de nossas candidaturas às prefeituras foi motivo de debate e de reconhecimento até mesmo por parte de outras forças políticas. Num seminário realizado após as disputas de 2008 e que tratava do tema mulher, mídia e eleições, o PCdoB foi colocado como referência na questão da promoção das mulheres. Isso vem crescendo no partido. Antes, existia uma distância muito grande entre o que o núcleo dirigente pensava, assimilava e incorporava sobre o tema e o conjunto do partido. Essa distância tem diminuído. 


Partido Vivo: Com relação ao ano de 2010, o que ressaltaria como destaques na atuação da secretaria?

LR: Tivemos avanços interessantes no ano passado. Começamos com as comemorações do 8 de março, em que tivemos presença marcante como militantes comunistas ou da União Brasileira de Mulheres (UBM). O seminário que fizemos no Rio de Janeiro em comemoração à data foi um momento muito significativo na vida do partido, em especial para as mulheres. Destaco, por exemplo, a fala do presidente Renato Rabelo, enfatizando que o PCdoB é o partido da juventude e das mulheres. Essa declaração teve grande repercussão no coletivo e as mulheres se sentiram valorizadas e protagonistas. Também foi um evento marcante do ponto de vista das comemorações dos 100 anos do 8 de março, tendo em vista que essa data surgiu exatamente do movimento comunista internacional; não podíamos deixar de assumir para nós a responsabilidade de chamar atenção para a data e para a urgência dessa luta.


Mas, a prioridade em 2010 foram as eleições e também neste aspecto jogamos papel importante, especialmente na candidatura de Dilma Rousseff. Elaboramos conjuntamente a plataforma para 2010, integramos a coordenação do Comitê Nacional de Mulheres pró-Dilma e também ajudamos na articulação de atividades nacionais das mulheres em apoio à candidata. 


Partido Vivo: E no que diz respeito à participação em instâncias dos movimentos sociais e em fóruns internacionais?

LR: Como secretária do PCdoB, participei da 11ª Reunião sobre a Questão da Mulher da Cepal, em Brasília, marcando nossa atuação em âmbito internacional, mais especificamente na América Latina. Nós, comunistas, também participamos, através da UBM, do Fórum de Organizações Feministas da América Latina e Caribe. Além disso, represento o Brasil no Comitê de Direção da Federação Democrática Internacional de Mulheres (Fedim) e participei nesta condição da 54ª Sessão da ONU sobre a Questão da Mulher (em Nova York). Também atuamos no Conselho Internacional do Fórum Social Mundial. Vale ressaltar ainda que, na nossa atuação na UBM, tivemos participação intensa na Frente contra a Criminalização das Mulheres e pela Legalização do Aborto, na Rede Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos e temos representações no Conselho Nacional de Saúde, no Conselho Nacional de Direitos das Mulheres e no Conselho Nacional da Juventude, além da participação nos níveis estadual e municipal. Temos uma atuação descentralizada que muitas vezes não tem visibilidade no partido apesar de sermos muito respeitadas no movimento. Precisamos ser mais ofensivas na divulgação dessas atividades. Temos tentado também estreitar as relações com a CTB; creio que a UBM deve ser uma entidade-irmã da CTB, como a Marcha Mundial é para a CUT.


Partido Vivo: E no que diz respeito à participação em instâncias dos movimentos sociais e em fóruns internacionais?

LR: Como secretária do PCdoB, participei da 11ª Reunião sobre a Questão da Mulher da Cepal, em Brasília, marcando nossa atuação em âmbito internacional, mais especificamente na América Latina. Nós, comunistas, também participamos, através da UBM, do Fórum de Organizações Feministas da América Latina e Caribe. Além disso, represento o Brasil no Comitê de Direção da Federação Democrática Internacional de Mulheres (Fedim) e participei nesta condição da 54ª Sessão da ONU sobre a Questão da Mulher (em Nova York). Também atuamos no Conselho Internacional do Fórum Social Mundial. Vale ressaltar ainda que, na nossa atuação na UBM, tivemos participação intensa na Frente contra a Criminalização das Mulheres e pela Legalização do Aborto, na Rede Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos e temos representações no Conselho Nacional de Saúde, no Conselho Nacional de Direitos das Mulheres e no Conselho Nacional da Juventude, além da participação nos níveis estadual e municipal. Temos uma atuação descentralizada que muitas vezes não tem visibilidade no partido apesar de sermos muito respeitadas no movimento. Precisamos ser mais ofensivas na divulgação dessas atividades. Temos tentado também estreitar as relações com a CTB; creio que a UBM deve ser uma entidade-irmã da CTB, como a Marcha Mundial é para a CUT.


Partido Vivo: Como o fato de Dilma ser presidente deverá ajudar na questão da mulher?
LR: Acho que para além de todas as questões em que Dilma pode contribuir para fazer avançar as transformações e o desenvolvimento do país, o fato de ser uma presidente mulher é uma questão emblemática para as brasileiras e a sociedade. É o que ela costumava dizer: a mulher pode. E isso tem um significado muito grande no combate à sub-representatividade das mulheres. Soma-se a isso o fato de Dilma não ser qualquer mulher, afinal, isso por si só não bastaria. É preciso ter proposta, uma visão avançada e um projeto consequente de país que vá ao encontro das nossas aspirações de transformação da sociedade. E ela tem essas qualidades. Portanto, esperamos que com Dilma possamos avançar nas políticas públicas e no aumento da representação feminina na sociedade. Mas, acho também que um dos desafios é a defesa de um Estado laico para, inclusive, não deixar que o fundamentalismo continue pressionando o governo a retroceder nas conquistas das mulheres. Este é um desafio que teremos de enfrentar no Congresso, e também ajudar a fazer frente para resistir à pressão que o Executivo vai sofrer.


Partido Vivo: E no que diz respeito à ação no PCdoB?

LR: Do ponto de vista do partido, temos neste ano duas grandes tarefas: a realização da segunda Conferência sobre a Questão da Mulher e o Congresso da UBM. E não podemos fazer algo menor do que foram as edições anteriores. O fato é que tanto do ponto de vista do partido quanto da UBM, a gente precisa avançar. Tínhamos, no partido, três desafios traçados na primeira conferência. Um deles era romper com a subestimação do papel estratégico da luta pela emancipação das mulheres – e acho que conseguimos avançar nisso, mas do ponto de vista da elaboração, não avançamos muito. Outro ponto era o de elaborar uma plataforma focada no protagonismo das mulheres e em certa medida acho que conseguimos cumprir com essa tarefa. Por fim, do ponto de vista da vida interna do partido, o desafio era fazer com que a questão da mulher fosse uma tarefa de todos, o que ainda não conseguimos totalmente. Mas, há sinalizações positivas como a garantia dos 30% das mulheres nas direções. Porém, precisamos fazer com que esta seja uma tarefa de todo o partido.


Outra coisa: vamos trabalhar por uma campanha de filiações para as mulheres. E tem algo que queremos concretizar de fato e de direito: com a mini-reforma política, ficou estabelecido que 5% do Fundo Partidário seria destinado à capacitação de mulheres. Então, estamos com a proposta de, neste ano, fazer um curso em vídeo sobre a questão da mulher para trabalharmos no partido de maneira a priorizar a formação militante. Se o PCdoB é respeitado na sociedade, se tem projetado importantes lideranças femininas nacionalmente, temos todas as condições de fazer com que a questão da mulher avance cada vez mais dentro do próprio partido.




Da redação,
Priscila Lobregatte