sábado, 22 de fevereiro de 2014

Quem será o responsável pelo primeiro assassinato?

A Câmara de Vereadores aprovou na sessão do dia 18/02, em primeira votação, a proposta de emenda à Lei Orgânica feita pelos vereadores Luciano Brito (PSB) e Edson Luiz (PMN) que autoriza a guarda municipal a portar e utilizar armas letais.


Por que o Sr. atirou em mim?” - Douglas Rodrigues

O assassinato covarde e gratuito de Douglas (jovem secundarista negro de 17 anos) pela Polícia Militar em São Paulo no fim do ano passado fez sua última pergunta se espalhar por todo o Brasil. Por que o Estado admite ou promove a morte de 20 crianças e adolescentes negros por homicídio todos os dias? Como ignorar que jovens negros assassinados superem em mais de 70% o número de jovens brancos vítimas do mesmo crime? Por que morrem violentamente cerca de 40 mil jovens por ano, sendo 30 mil negros e da periferia, em especial por homicídios?

A sociedade capitalista e sua propaganda estimulam as neuroses do consumismo, do individualismo e do culto à violência. Disseminam as compulsões e falta de perspectivas. O Estado descumpre seus deveres básicos com crianças, adolescentes e jovens negros e da periferia. Além de criminalizar a pobreza, o Estado mata e acoberta, com a ação combinada da polícia e do poder judiciário. Isso se dá com os autos de resistência. A polícia mata e, com uma mera justificativa escrita, o crime passa impune, nem é julgado. E o(a) assassinado, agredido, violentado, passa a História como bandido, acusado, condenado e executado sem nenhuma chance. Essa é mais uma das heranças da Ditadura Militar.

Todo camburão tem um pouco de navio negreiro” - O Rappa

A impunidade dos crimes do Estado e de seus agentes contra o povo na Ditadura se reproduz na continuidade da militarização da Polícia e dos autos de resistência, e na manutenção dos poderes arbitrários de prender e desaparecer, torturar, julgar e aplicar pena de morte, inclusive crianças e adolescentes, e impunemente. Para a juventude negra e a periferia o AI-5 nunca acabou.

O racismo e o capitalismo matam. Em 2011, no mundo todo, 676 pessoas foram executadas por condenações à morte. Só no Rio de Janeiro, entre 2001 e 2011, 10 mil pessoas foram mortas pela polícia, que é campeã mundial de letalidade. Só em 2005, a Polícia do Rio matou 707 pessoas, mas só se abriram inquéritos policiais em 355 casos. Desses, só 19 viraram processos. Desses 19 processos, 16 foram arquivados a pedido do Ministério Público. Em 2005, só no Rio, cerca de 700 pessoas mortas pela polícia (mais que as execuções por pena de morte no mundo). E as famílias sequer tiveram direito a um processo judicial. Por que a vida de negros e pobres vale tão pouco em nosso país?

Nós, da União da Juventude Socialista (UJS) redobramos a denúncia da tragédia que atinge a juventude negra e pobre. É por ela que temos lutado, e com importantes vitórias: bolsa família, cotas raciais e sociais, ampliação das universidades e escolas técnicas, REUNI, PROUNI, Programa Segundo Tempo, Pontos de Cultura e Juventude Viva. MAS NENHUM DIREITO EXISTE SE O ESTADO NÃO GARANTIR O DIREITO DA JUVENTUDE DE VIVER!

O Estado brasileiro tenta, inutilmente, há décadas combater a violência utilizando da violência. Tantas décadas não são o suficiente para mostrar que este método apenas aumenta as taxas de criminalidade?

O uso de armas por parte da guarda municipal não reduzirá as taxas de violência em Maringá, ao passo que aumentará a segregação social e a exclusão dos jovens negros e da periferia.

Temos exemplos mundo afora que mostram que é sim possível diminuir significativamente a violência urbana, mas estes exemplos vão no sentido contrário à proposta aprovada pela CMM.

Queremos Estado para apoiar a juventude negra e pobre a ocupar seu legítimo lugar no Desenvolvimento do Brasil. São Garrinchas, Pelés, Miltons Santos, Miltons Nacimentos, Joaquins Barbosas e Clementinas de Jesus, assassinados todos os dias porque o Estado abandona, a polícia mata, e o judiciário deixa impune. 

A única maneira de resolver de modo considerável a violência urbana é promovendo igualdade social! Autorizar a Guarda Municipal a andar armada é ser cúmplice do extermínio da juventude.