terça-feira, 21 de maio de 2013

Em Maringá mais colega ciclista morreu. Mas saiba que, na Cidade Canção, a culpa não é (só) dos políticos...

 Por Christian Fausto

 Diferente de mim, o senhor de 47 anos que morreu na manhã desta terça feira (21 de maio de 2013), em Maringá, não conduzia sua bicicleta para se exercitar. Sim, sou um apaixonado por bicicletas, mas posso me dar ao luxo de evitar, ao menos parcialmente, o trânsito selvagem da Cidade Canção quando vou de casa até o trabalho. A escolha que faço, toda manhã, entre o carro de 1 tonelada e a bicicleta de 10 quilos se dá por conta da experiência, de quase morte, que tive ao tentar chegar, pedalando, ao trabalho.

Sim, sou apaixonado pela bicicleta, mas eu e minha esposa optamos por pedalar em Maringá após as 20hrs, quando a maioria dos carros da cidade repousam em suas jaulas, digo, garagens. Entretanto, sou consciente do fato de que, para uma parcela esmagadora da população maringaense, pedalar até o trabalho é uma questão de sobreviver até o fim do mês com algum alimento na geladeira e despensa.

Maringá tem, hoje, uma das maiores tarifas de transporte coletivo do país. O valor, recentemente ajustado, chega a R$2,95. Em um ano como o de 2013 que terá, aproximadamente, 253 dias úteis, um trabalhador que utiliza o transporte público oferecido na cidade chega a gastar, anualmente, aproximadamente, R$1.500,00. Ora, se este trabalhador ganha um salário mínimo (R$678,00), ele irá trabalhar 2 meses e meio somente para pagar o transporte que o leva de casa para o trabalho.

Curiosamente Maringá, apesar de toda autopromoção e da afirmação de que se trata de uma das melhores e mais bem planejadas cidades que existem para se viver possui somente 17 quilômetros de ciclofaixas e ciclorrotas. Sim, a cidade de Maringá, além de possuir uma malha cicloviária ínfima, não possui ciclovias. Haja vista que um circuito, para ser considerado ciclovia, não pode ter seu trajeto interrompido por carros. Algo que não acontece, por exemplo, nas ciclorrotas da avenida Pedro Taques e Morangueira.


Recentemente, um pesquisador da área de Engenharia Urbana, da Universidade Estadual de Maringá, demonstrou a possibilidade de criação de uma rede cicloviária integrada na cidade com 95 quilômetros. O estudo foi realizado pelo agora mestre em engenharia urbana Thiago Botion Neri.

Nem preciso dizer que a moderna Maringá está, literalmente, na contramão de tudo o que, hoje, é aconselhado em termos de mobilidade urbana. Cidades como Berlin, uma das capitais mais modernas do mundo tem, nada menos que 750 km de ciclovias! Em Amsterdam são 450Km, em Copenhague, 350 Km, Nova Iorque tem mais de 350 km. Se formos pensar em ciclistas, só a cidade de Amsterdan tem 600.000 deles pedalando diariamente pela cidade. Isso é quase o dobro da população de Maringá.

Mas, se esta solução urbana já mostrou ser uma tendência mundial, civilizada, não poluente e relativamente barata, porque Maringá segue convicta no transporte motorizado? Porque a cidade continua ignorando uma das melhores topografias urbanas do mundo para se andar de bicicleta?

A pergunta já foi feita diversas vezes e, quase sempre, direcionada ao prefeito e vereadores em exercício. Ainda hoje, 21 de maio de 2013, vários internautas têm sugerido de se fazerem mobilizações defronte aos órgãos legislativos da cidade. Mas, será que é a estes órgãos públicos que devemos recorrer? Será mesmo que uma mobilização de ciclistas solidários ao colega, que morreu atropelado na Avenida Morangueira, deveria ser feita defronte a Prefeitura e Câmara dos vereadores de Maringá? Sinceramente, acho que não.

Boa parte das políticas de transporte público maringaense visa atender demandas de entidades específicas. Para uma parcela considerável dos comerciários da cidade de Maringá, a instauração de ciclovias iria atrapalhar o comércio onde as mesmas fossem construídas, pois os consumidores motorizados não poderiam estacionar seus carros em frente a tais estabelecimentos.

Para a Corporação responsável pelo transporte público da cidade, a disponibilização de ciclovias poderia reduzir drasticamente o lucro aferido por ônibus lotados de cidadãos que não têm, até agora, outra opção para chegar ao trabalho.

Com relação aos comerciários o temor é infundado. Na cidade de Nova Iorque, estudos demonstraram que estabelecimentos comerciais, localizados defronte ciclovias, chegaram a ter um aumento nas vendas de mais de 30%. Os motivos são óbvios. Por ter muitas ciclovias, a cidade de Nova Iorque tem, nos seus ciclistas, pessoas das mais diversas classes sociais, ou seja, chegou-se a conclusão de que ciclistas também são consumidores. Uma obviedade que o empresariado maringaense teima em ignorar. Em segundo lugar, por conta da velocidade desenvolvida, ciclistas têm mais tempo para observarem vitrines e fachadas comerciais. O que, também obviamente, aumenta a exposição do consumidor à publicidade. E, em terceiro lugar, encontrar uma vaga para estacionar a bicicleta é, claramente, algo muito mais fácil do que encontrar uma vaga para o carro. O que facilita o ato de consumir.

No caso da Corporação responsável pelo transporte urbano de Maringá, realmente tenho de admitir que a criação de ciclovias, provavelmente, reduziria os lucros de tal empresa. Entretanto, ainda haveria uma boa margem para lucro. Afinal, qualquer empresa que pratica oligopólio sempre irá lucrar. Ademais, fica uma importante questão: para que serve o transporte público em uma cidade? Bem, acredito que tal pergunta pode nos ajudar a compreender para quais instituições temos de recorrer e assim fazer com que Maringá, finalmente, tenha mais ciclovias, mais qualidade de vida e, logicamente, menos gastos com atendimentos de urgência e emergência e, o mais importante, menos mortes no trânsito.

Ora, sabemos que, no Brasil, a doação de dinheiro para campanhas eleitorais é prevista em lei. Nenhuma pessoa física ou jurídica estará cometendo um crime ao fazer doações para a campanha deste ou daquele candidato a prefeito ou vereador. O que nos leva, rapidamente, a concluir quais são as duas maiores entidades da cidade que contribuem para as campanhas eleitorais de vereadores e prefeito de Maringá.

O que quero dizer? Simples. Se estamos cansados de esperar por ônibus lotados que levam horas para chegar. Se estamos fartos de gastar R$1.500,00 por ano para irmos de casa para o trabalho. Se já não aguentamos mais levar quase uma hora para atravessar o centro da cidade de carro, é hora de nos mobilizarmos! Agruparmos uma multidão! Pegarmos nossas bicicletas, pintarmos faixas e irmos, todos, em frente a ACIM* e TCCC** exigir que tais entidades deixem a Câmara de Vereadores e Prefeito de Maringá aprovarem leis e verbas para a construção de ciclovias. Porque, se há um fato inegável na Cidade Canção, meu amigo, é que a verdadeira Prefeitura e Câmara de Vereadores desta cidade não estão localizadas perto da Catedral.


  *ACIM: Associação Comercial e Empresarial de Maringá
**TCCC: Transporte Coletivo Cidade Canção Limitada