Realiza-se neste final de semana (15 a 17) em São Paulo, mais um encontro nacional do PCdoB. O escopo é o enfrentamento dos desafios na área da Organização, para superar deficiências e lacunas próprias do período de expansão das fileiras partidárias e de uma época em que é enorme a confusão política e ideológica. Os comunistas abordarão igualmente durante o evento temas ligados a vários aspectos da luta para se afirmarem como corrente política independente.
Numa conjuntura em que o sistema político-partidário dá sinais de esgotamento, em que partidos são criados para reacomodar forças políticas de centro-direita e alguns trocam de partido como quem troca de camisa no nosso persistente verão, não deixa de ser um fato político notável que os comunistas demonstrem a sua permanência como força organizada e atuante e busquem os caminhos mais adequados para sua estruturação, a par com o empenho para a afirmação política e ideológica. Uma permanência de 9 décadas, que se completam em 25 de março do próximo ano.
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O Encontro sobre Questões de Partido, preparado com celeridade durante os três primeiros meses do ano em curso, a partir dos balanços realizados no seio da direção nacional sobre a ação política e organizativa do grande coletivo comunista, pode equivaler, do ponto de vista político e organizativo, pela envergadura dos temas em discussão, a uma conferência nacional. Ou pode mesmo ensejar sua convocação.
Pode marcar época, definir rumos, estabelecer normas, metas e procedimentos que preparem o PCdoB para um salto. Abrirá, sem dúvida, um período novo na vida partidária, que pode tornar-se mais dinâmica, mais fluente, mais ágil, mais organizada e eficaz, com capacidade de ação política nos embates imediatos e vindouros do povo brasileiro por sua emancipação nacional e social. É para isso – lutar por mudanças políticas e sociais profundas – que serve um partido revolucionário e comunista.
Isto é verdadeiro, em primeiro lugar, com relação à tarefa política imediata dos comunistas, que é impulsionar o governo da presidente Dilma Rousseff a unir sua base política e o povo brasileiro para realizar as mudanças que a nação reclama. Foi esta a ideia-força da memorável campanha eleitoral de 2010. Na ordem do dia estão as reformas estruturais – política, agrária, urbana, da educação, tributária e da mídia – essencialmente democráticas e com potencial de abrir caminho para – como diz o programa do partido aprovado no 12º Congresso (2009) – levar o Brasil para um novo “salto civilizacional” .
Acumulação eleitoral
Nesse marco, o Encontro desempenhará papel decisivo na preparação da legenda comunista para o grande embate político-eleitoral do próximo ano, que mobilizará as forças políticas do país na escolha dos prefeitos e vereadores em mais de cinco mil municípios. É uma oportunidade para os comunistas se apresentarem ao povo, com ele debaterem, mostrarem suas propostas com linguagem transparente, a fim de enfrentar os problemas políticos e administrativos com que se depara a população nos municípios pequenos e médios e nas grandes metrópoles. É uma etapa indispensável no processo de acumulação de forças do PCdoB, fator essencial para a conquista de autonomia eleitoral e independência política.
Do êxito do Encontro partidário deste final de semana podem resultar medidas organizativas e políticas que coloquem o PCdoB à altura de disputar o comando de várias cidades em 2012, incluindo capitais de estados.
Identidade comunista
A projeção histórica do Encontro sobre Questões de Partido vai além da conjuntura política e da disputa eleitoral. Ela se torna explícita quando observada no quadro da evolução do PCdoB na última década e meia.
Foi em 1997, no 9º Congresso, que o PCdoB iniciou o processo de renovação político-ideológica e modernização orgânica, conceitos que, nas suas fileiras e na direção, nunca tomaram a conotação de renegação dos princípios, de abandono da identidade, de revisionismo histórico nem de renúncia ao caminho revolucionário. “Construir um partido comunista de princípios, com feições modernas”, apelava então o saudoso camarada João Amazonas.
Foi sob a égide deste chamamento que os comunistas evoluíram na formulação e aplicação de uma tática a um só tempo combativa e flexível, ajudaram a eleger Lula, ingressaram em seu governo, assumiram maiores responsabilidades políticas perante a nação e o povo, aprovaram um novo programa que o atual presidente do PCdoB, Renato Rabelo, sintetiza como definidor de “um rumo socialista e um caminho concreto”. Tática a serviço da estratégia, portanto.
Nessa perspectiva, os debates sobre as tarefas de construção orgânica permanecem umbilicalmente ligados com a perspectiva estratégica e a missão histórica dos comunistas. Até porque, como estes não consideram que “o futuro a deus pertence”, preparam-se para atuar em qualquer cenário. Nada indica que a evolução do quadro político se processará como num mar de rosas. Há sinais na crise do capitalismo e no agravamento dos problemas mundiais, de que aos comunistas será cobrado grande empenho, maior, muito maior do que possamos imaginar, para enfrentar grandes embates e ferir renhidas batalhas, ombro a ombro com o povo brasileiro e as forças políticas coirmãs, contra o imperialismo e as classes dominantes retrógradas.
O documento apresentado pela direção nacional para discussão e aprovação no Encontro sobre Questões de Partido faz um chamamento à construção de um partido de militantes, de quadros e de massas. Partido de e para a luta. Tarefa gigantesca, que supera os esforços de Hércules. Também aqui, nada se fará sem a fonte e a essência política e ideológica, sem a consciência elevada de cada militante e a perspectiva estratégica clara.
Para todos os efeitos, os comunistas formam um partido diferente dos partidos convencionais, por uma simples razão: sua missão histórica é o soerguimento de um sistema político, econômico e social antípoda do que defendem aqueles partidos. No sentido leninista, como no gramsciano, a existência do partido comunista prende-se em última instância a isso: liderar a classe trabalhadora na luta histórica por uma nova sociedade, o socialismo, propiciar a essa classe o instrumento político e organizativo para empreender essa grande travessia.
Por isso, debater organização pressupõe também reafirmar a identidade comunista do PCdoB. Identidade que não é, por óbvio, um enunciado, um rótulo ou uma efígie, mas se expressa no dia a dia, no que fazer cotidiano, nos grandes e pequenos embates políticos, econômicos, sociais e culturais do povo. É como um DNA a determinar o caminho da vida, uma espécie de bússola a orientar os militantes, uma sinalização para a via e o rumo revolucionários, para uma permanente acumulação de forças com agudo sentido estratégico. Entre os militantes comunistas já se tornou algo natural assumir que o “PCdoB é de luta” e “onde tem luta tem PCdoB”.
*Secretário Nacional de Comunicação do PCdoB