Vítimas das enchentes de SP levam ratos e cobras a Kassab
Centenas de moradores de São Paulo vitimados pelas enchentes tentaram nesta segunda-feira (8) ser recebidos pelo prefeito Gilberto Kassab (DEM), trazendo vidros com cobras e ratos encontrados no Jardim Romano. Eles foram recebidos pela Polícia Militar com spray de pimenta e cassetetes, mas sairam com uma audiência marcada com Kassab, na sexta-feira (12).
Antes de obter a promessa de audiência, os manifestantes enfrentaram uma exibição de violência. O vereador José Ferreira, o Zelão, e o deputado federal Carlos Zarattini, ambos do PT, foram atingidos pelo gás. O major-PM Marcos Rangel Torres admitiu os casos de violência, dizendo que serão investigados. "Houve um acirramento da tensão e nesse momento foi necessário dispersar os manifestantes", alegou.
Lista de reivindicações
A manifestação diante da Prefeitura, no Viaduto do Chá, teve 200 participantes, conforme a PM. A maior parte veio dos bairros do Jardim Pantanal e do Jardim Romano. As cobras e ratos foram capturados em suas casas, inundadas na sucessão de enchentes que completou dois meses. Eles traziam também garrafas com a água poluida que invadiu seus lares.
Os manifestantes protocolaram na prefeitura um documento para cobrar, entre outros pontos, a abertura da barragem da Penha do rio Tietê – para escoar a água –, indenização pelos prejuízos, isenção de impostos e taxas, cadastramento dos atingidos e moradia imediata para as famílias desabrigadas – que continuam em escolas municipais e, com o início do ano letivo, não têm para onde ir.
Depois da ação repressiva, os moradores acabaram atendidos pelo secretário Relações Governamentais da Prefeitura, Antônio Carlos Maluf.De acordo com o deputado federal Ivan Valente (PSOL), que participou da reunião, ficou definido que o prefeito participará de um encontro com a comissão na próxima sexta-feira (12).
"Há 60 dias eles estão inundados e convivendo com ratos e cobras. A população está revoltada”, disse Ivan Valente.
Representantes dos manifestantes esperam que o governador José Serra (PSDB) também participe da reunião de sexta. De acordo com os integrantes da comissão, não havia integrantes do governo estadual no encontro realizado hoje na prefeitura.
O que dizem os atingidos
“Meu filho foi internado com uma infecção causada pela inundação. Eu estou doente e tenho amigos com leptospirose. Aquilo ali está uma vergonha. É desumano e desesperador não ter para onde ir”, disse aos jornalistas a enfermeira Ana Aparecida Silveira, 51, moradora da região do Jardim Pantanal há 15 anos.
“Toda vez que chove eu tenho que tirar meus filhos de lá. Minha família paga IPTU. Eu não vou sair se não tiver uma casa pra morar”, afirmou a doméstica Ana Paula Leite Rodrigues, 36.
“É mais fácil saírmos da Zona Leste do que o prefeito descer para falar com a gente?”, questionou Jackson Camilo, outro morador do Jardim Pantanal. Segundo ele, as únicas medidas imediatas tomadas foram a retirada de entulhos das ruas e o decreto de calamidade pública.
A agressão da PM aumentou a indignação dos moradores. "Estou com meu filho de cinco meses aqui e recebi gás de pimenta na cara. É um absurdo”, disse Clarice Ferreira, de 25 anos. Ela também levou ao protesto a filha de nove anos. As duas vomitaram após o contato com a substância.
Outra moradora da região, Ana Paula Leite Rodrigues, de 36 anos, também foi atingia por spray no rosto. “Estamos aqui para reivindicar nossos direitos e acabamos agredidas”.
Da redação, com agências