segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Solidariedade com o Pinheirinho; hoje mobilizações em todo o país


Domingo, 22 de janeiro de 2011. O país amanheceu estarrecido frente à informação de que a tropa de choque da Polícia Militar de São Paulo entrou no Pinheirinho para cumprir o mandato de reintegração de posse da área ocupada por 6 mil pessoas há 8 anos.


Os moradores ainda dormiam quando as casas começaram a ser desocupadas pela ação da 
Polícia Militar e da Guarda Civil de S. José dos Campos/ Foto: Roosevelt Cassio/ Reuters

O terreno, localizado em São José dos Campos, a 87 km de São Paulo, é ocupado por essas famílias há 8 anos. Apesar de os moradores terem se preparado para resistir à desocupação, pouco pôde ser feito frente à ação surpresa da polícia, que chegou ao local por volta das 6h.



A ação militar deixou um rastro de destruição no local. De acordo com o jornal do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e região, tratores enviados pela prefeitura destruíram a Capela Madre Tereza de Calcutá, construída pelos moradores. Também foi destruído o barracão onde aconteciam as assembleias, festas e reuniões da comunidade. O objetivo é demolir as mais de 2 mil casas erguidas no local.


A ação surpreendeu a todos e inclusive o governo federal, que esperava uma saída negociada para questão. "Ficamos sabendo hoje [domingo (22)]. A informação que eu tinha até ontem [sábado (21)] é que a Justiça Federal havia sustado [a decisão de reintegrar a posse]. Antes disso, havia um acordo para adiar por um prazo de 15 dias com o juiz da massa falida. Aí hoje (domingo) ficamos sabendo dessa situação. Assim que eu soube falei com o governador e o presidente do tribunal", declarou o ministro José Eduardo Cardozo.



O ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, afirmou ter estranhado o fato de o prefeito de São José dos Campos, Eduardo Cury (PSDB), ter desmarcado uma reunião sobre a ocupação na quinta-feira (19) passada.



Já o deputado Paulo Teixeira (PT) criticou o governo estadual comandado pelo tucano Geraldo Alckmin: "Ele se omitiu dessa situação. É uma ação que poderia ter sido evitada porque é uma disputa em torno de habitação", afirmou.



Improviso

Abrigo improvisado tinha lama e não havia colchões ou cobertores par
a as famílias que vão dormir no local / Foto:Julianna Granjeia/Folhapress



Além do efeito surpresa aos moradores, ao que parece o poder público também não estava preparado para o fato. As duas grandes tendas que foram armadas no Centro Poliesportivo do Campo dos Alemães para socorrer os moradores se encontram em condições precárias, de acordo com descrição da Folha de S. Paulo. 


Uma delas tem um piso de madeira, mas a outra está enlameada devido à chuva que caiu na cidade neste domingo. Nos dois locais, há apenas algumas cadeiras para os desabrigados. De acordo com a reportagem, no local havia banheiros químicos, mas não colchões ou cobertores para aqueles que iriam pernoitar no local. Também faltava água e comida.

Violência

De acordo com a PM, 2.000 policiais, 220 viaturas, cem cavalos, 40 cães e 300 agentes da prefeitura participam da operação para retirar as famílias do Pinheirinho. 

De acordo com a publicação sindical, o ajudante de pedreiro David Washington Castor Furtado, de 32 anos, ferido a bala durante a ação, poderá ficar paraplégico. Segundo relato da mãe de Furtado, Rejane Furtado da Silva, no momento em que foi baleado, ele tinha acabado de sair do Pinheirinho e carregava seu filho de 10 meses no colo. 

Segundo médicos, ele corre o risco de ficar paraplégico. “Até agora o meu filho não está sentindo as pernas. É muita desgraça. A esposa dele, que viu tudo, está em estado de choque”, disse dona Rejane, que é categórica ao afirmar que a bala partiu da Guarda Municipal.

Mobilização



Manifestante, na Paulista, usa máscara com rosto do governador Geraldo Alckmin sujo de sangue 
/Foto:Nelson Antoine/Fotoarena/AE

No domingo (22), cerca de 500 manifestantes, segundo estimativa da Polícia Militar, fecharam o sentido Consolação da Avenida Paulista em protesto contra a reintegração de posse da comunidade do Pinheirinho. Nesta segunda-feira (23) estão sendo planejados atos em diversas cidades do país em apoio aos moradores e contra a truculência do Estado. Confira:

São José dos Campos - às 9h, na Praça Afonso Pena
Belo Horizonte - 16h na Praça da Liberdade
Porto Alegre - 12h na Esquina Democratica
Belém - 09h na ALEPA
Brasília - 10:30 no gramado do Congresso Nacional
Teresina - 14h, Praça do Fripisa
Rio de Janeiro - 16h Largo da Carioca, Centro
Franca (SP) - 17h no Terminal de Ônibus
Curitiba - 17h na Boca Maldita
Londrina - 18h no Calçadão
Juiz de Fora - 17h no calçadão
Guarulhos/SP - 17h Praça da Matriz
Fortaleza - 17h na Rua 13 de maio
Macaé - 17h na Praça Veríssimo Melo

Entenda o imbróglio jurídico

Na última quarta-feira (18) à noite, houve um acordo entre a massa falida da empresa e os moradores do Pinheirinho. Foi acordado que haveria uma trégua de 15 dias, para um entendimento entre as partes envolvidas.

A questão da reintegração esteve envolta em uma disputa das competências entre magistrados federais e estaduais. No domingo (22) estavam em vigor duas determinações: a Justiça estadual determinava a desocupação da área, enquanto a federal determinava que nada fosse feito.Apenas a noite, após a operação é que o Superior Tribunal de Justiça emitiu uma decisão liminar dizendo que a competência sobre a permissão de reintegração de posse era da Justiça Estadual.

A Justiça Federal envolveu-se na questão porque havia um projeto do governo federal para urbanizar a área.

Após o início da ação, moradores entraram com um pedido na Justiça Federal para que a reintegração parasse e os responsáveis pelo comando da operação fossem presos, por terem descumprido a ordem judicial.

Da Redação do Vermelho
com informações da Folha de S. Paulo e do jornal do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos