segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Estudantes voltam a acampar na sede da UPES para defender seu patrimônio

Resistência UPES
Alvo da disputa, só o terreno foi avaliado em mais de R$ 700 mil por corretores imobiliários em 2010, contam dirigentes da entidade. Fotos: T.T.

Os estudantes secundaristas do Paraná estão, desde o dia 8 de janeiro, acampados novamente na sede da União Paranaense dos Estudantes Secundaristas (UPES) para defender seu patrimônio, constantemente ameaçado pelas investidas judiciais da Incorporadora Menezes. Uma briga que se arrasta há muito tempo e que só piorou a partir de 2006, quando liminares, embates e protestos passaram a ser rotineiros. A empreiteira, que no passado teria adquirido o terreno de uma pessoa que o vendeu sem ter legitimidade para isso, quer a todo custo expulsar os estudantes de sua sede e só a resistência firme, aliada à ação de advogados atentos e ao apoio político, tem impedido que isso aconteça. Os estudantes não descartam que grilagem e esquemas fraudulentos possam estar na ficha corrida dessa peleia pelo terreno da entidade, que já foi originalmente, segundo relato de moradores da vizinhança, bem maior que o espaço ocupado atualmente.
MOMENTO DIFÍCIL
Felipe, presidente da entidade, mostra a placa que homenageia os apoiadores da construção da nova sede, inaugurada em 2009.
Cerca de 15 estudantes se revezam para pernoitar no acampamento da sede da UPES, no bairro do Ahú, e para cuidar dos trabalhos da organização da entidade e da agenda cultural, desenvolvidos durante o dia. Com água cortada há cerca de um ano, eles contam apenas com o apoio da população do bairro, vizinhos, amigos e com a solidariedade de apoiadores da causa. O momento não poderia ser mais difícil nessa guerra jurídica. Antes do recesso do Poder Judiciário, no final do ano passado, a Incorporadora Menezes conseguiu obter uma liminar de reintegração de posse. 
A execução dessa medida judicial ficou aguardando a volta dos trabalhos no dia 9 de janeiro. Por isso, os estudantes vivem a expectativa de, a qualquer momento, sofrerem uma ação de despejo. A assessoria jurídica da UPES entrou com pedido de agravo no Tribunal de Justiça (TJ-PR), que deverá ser julgado logo também. Resistir é a palavra de ordem. “Vamos voltar para cá de qualquer jeito. Se ganharmos a ação, será para comemorar. Se perdermos, para resistir e enfrentar a injustiça”, disse o novo presidente da entidade, Felipe Barreto.
Sem fornecimento de água há cerca de um ano, estudantes contam com a solidariedade de amigos e vizinhos para manter a sede funcionando.
A posse da nova diretoria da UPES, eleita no congresso realizado em novembro do ano passado, acontecerá no dia 25/01 às 18h. Junto com a posse, eles pretendem promover um debate de conjuntura e plantar uma Araucária bem no meio do terreno, como símbolo da fixação da organização estudantil no local. A Araucária é preservada por lei e não poderá ser cortada para atender aos interesses da ganância empresarial. O terreno da UPES foi comprado no ano de 1970 e a primeira casa foi construída em 1972. Na década de 90 é que os problemas começaram. Uma pessoa se aproveitou de um momento de desarticulação do movimento estudantil, período sem gestão formal, e simulou uma assembleia com o intuito de vender a ela mesma o terreno para, depois, revendê-lo à Incorporadora. Em 1994, a casa foi demolida. Em 2006, a empreiteira pediu ‘usucapião’ na Justiça, mesmo fora do prazo de dez anos, que é quando prescreve o direito de posse. Outra casa, que foi construída no lugar daquela derrubada, voltou a ser demolida em 2009, mesmo ano também em que os estudantes construíram com a ajuda das doações dos “Amigos do Pessuti” e de outras lideranças, especialmente ex-dirigentes do movimento estudantil, a casa que está de pé até hoje. Mas eles avaliam que a mudança de governo, com o inimigo número 1 dos estudantes e do povo paranaense, Beto Richa (PSDB), sentado no trono do Palácio das Araucárias, e o modus operandi ditatorial dos tucanos de governar, focado nos interesses do poder econômico, fazem desse um dos momentos mais difíceis para os movimentos sociais e especialmente para a luta dos estudantes em defesa do seu patrimônio.
A UPES TEM HISTÓRIA
Higor Juan, diretor de comunicação e responsável pela alimentação do site, campanhas e perfis nas redes sociais da UPES, conta que todos os dias a luta agrega novas adesões e simpatias. "Mesmo quem não pode se deslocar até aqui, reforça as ações nas redes sociais e a militância virtual", diz.
Muita gente não sabe, mas a UPES organizou a primeira passeata do “Fora Collor” no Brasil. Partiu da iniciativa do Grêmio Estudantil Guerrilheiros do Arauguaia, do Colégio Loureiro Fernandes. Somou forças com a UMESC (União Metropolitana dos Estudantes Secundaristas) e com a UBES (União Brasileira). Entre as lutas que orgulham os estudantes da atual direção da entidade estão a ocupação da Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP) em 2001, para impedir a venda da Copel, o movimento dos Caça-Fantasmas do Legislativo, que se articulou com a OAB-PR e com o Grupo RPC na ação “O Paraná Que Queremos” e, no final do ano passado, a ocupação novamente da ALEP para protestar contra as medidas privatizantes do Governo Beto Richa, que criou as OSs na Saúde Pública, autorizou a terceirização do Museu Oscar Niemeyer, o Museu do Olho, e da Orquestra Sinfônica do Paraná. “Eles podem até dar outros nomes, mas trata-se de privatização. Não tenho dúvida nenhuma de que Beto Richa seja o inimigo número um dos estudantes e do povo paranaense”, disse Barreto. “Educação e Saúde sucateados, direitos dos trabalhadores atropelados e a forma truculenta de criminalizar os movimentos sociais atestam essa afirmação”, completou.
Jardim bem cuidado pelo Seo Francisco, um vizinho que se dedica a embelezar a sede e acampamento da galera. Exemplo da acolhida e do apoio da vizinhança aos estudantes.



Acesso à internet, somente na lan-house. Mas estudantes não deixam de divulgar seus trabalhos e as visitas dos apoiadores.
Os estudantes não se negam a abraçar as causas da classe trabalhadora e as mobilizações encampadas por outros movimentos sociais até porque a defesa da educação e da cidadania faz por natureza com que eles tenham essa visão mais abrangente das lutas sociais. Está na hora também das lideranças comunitárias e do movimento sindical apoiarem a luta dos estudantes em defesa do seu patrimônio e retribuirem a força que eles tanto imprimem às mobilizações dos demais segmentos. Defender a UPES é fundamental para enfrentar a gana da “privataria tucana”. Muita gente que não tem a mesma formação política ou sindical já percebeu que é justa a luta dos estudantes e já se conscientizou de que defender os valores de uma sociedade democrática e a liberdade de expressão passa por dar apoio ao movimento estudantil. Ou simplesmente se sensibilizar com os ideais dessa juventude. É o caso do Seo Francisco, morador do bairro, que todas as manhãs, sabe-se lá há quanto tempo ele faz isso, cuida do jardim da sede da UPES. Ele chega lá por volta das 5h da manhã e se dedica a tratar das plantinhas, limpar o terreno e a embelezar com novas mudas uma área que deve ser preservada como símbolo da resistência da galera. O gesto simples desse senhor e a amizade dos vizinhos que se contrapõem ao poder do dinheiro só reafirmam os valores da justiça social e o sentimento de que um outro mundo, menos corruptível e menos violento, seja realmente possível!

Amigos da UPES
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