Em um livro publicado nesta segunda-feira (26), a irmã de Fidel Castro, Juanita, revela pela primeira vez que trabalhou como agente disfarçada da CIA, em operações contra o governo de seu irmão durante os três anos posteriores à falida invasão da Baía dos Porcos, em 1961. Para operar como agente e transmitir informações, Juanita utilizava o codinome "Donna", aliás, extraído da opera Madame Butterfly, de Puccini.
O livro de memórias, de 432 páginas, se intitula 'Meus irmãos Fidel e Raúl: a história secreta', e foi co-escrito junto à periodista norte-americana de origem hispano María Antonieta Collins. Juanita Castro ditou suas memórias há uns dez anos, mas até agora havia se negado a publicá-las.Nas páginas do livro, Juanita, hoje com 76 anos - sete anos a menos que Fidel -, conta como, a princípio, foi partidãria da Revolução de 1959, porém, logo se desencantou. Dois anos depois do triunfo dos rebeldes, e após pedidos da esposa do então embaixador do Brasil em Havana e depois chanceler, Vasco Leitão da Cunha, a irmã de Fidel aceitou encontrar-se com um agente da CIA no México, de onde tinha planejado viajar para encontrar-se com sua irmã Emma.
Por esse tempo - e enquanto o governo revolucionário expropriava, de seu irmão mais velho, Ramón, a fazenda da família para explorá-la de acordo com os novos objetivos socialistas - a casa de Juanita já tinha se convertido em um santuário para os anti-comunistas.
Durante sua reunião com o contato da CIA, identificado como Tony Sforza, conhecido como "Enrique", Juanita disse de sua insatisfação com o fato de que muitos militantes e combatentes não comunistas que lutaram para derrubar o ditador Fulgencio Batista estavam sendo excluídos dos principais cargos.
No final da reunião, no Hotel Camino Real da Cidade do México, Juanita Castro já havia concordado em colaborar com a agência de espionagem norte-americana, mas sob uma estrita condição: que nunca a envolveriam em uma operação destinada a "liquidar fisicamente" algum de seus irmãos . "É a minha condição mais importante, eu diria que a única", contou Castro a Sforza, segundo suas memórias. A irmã de Fidel e Raúl, por sua vez, afirmou que jamais aceitou que lhe pagassem pela sua cooperação.
Feito o negócio, sua primeira missão não demorou a chegar: Castro devia encarregar-se de distribuir, no interior da ilha, vários carregamentos de latas de conserva onde seguiam escondidos mensagens e dinheiro para os agentes da CIA dentro de Cuba.
Entre 1961 e 1964, Juanita, basicamente, ajudou a passar mensagens, dinheiro e documentos para o interior da ilha. Segundo seu depoimento, ela foi a pessoa que informou à CIA que os mísseis soviéticos estavam sendo instalados em Cuba. Em 1962, durante seu segundo ano de trabalho secreto, começou a crise dos mísseis. Nunca o mundo esteve tão perto de uma guerra nuclear. Para contactar a Central de Inteligência, a irmã de Fidel e Raúl passava mensagens através de rádio de ondas curtas. As chaves para anunciar sua transmissão, escolhidas por ela, foram as música "Fascinación", de Marchetti, e "Obertura", de Madame Butterfly, de Puccini.
Segundo o jornal El Nuevo Herald, de Miami, que publicou trechos do livro, a CIA decidiu tirar Juanita de Cuba após Virgínia Leitão da Cunha, esposa do embaixador brasileiro, pedir especialmente. A esposa do diplomata, em Brasília, teria informado que Raúl Castro havia visitado sua irmã e deixado claro que já havia um arquivo sobre ela sob o rótulo de "atividades contrarrevolucionárias".
Juanita chegou aos Estados Unidos, em 1964, onde funcionou sua própria farmácia, até 2007, quando se aposentou.
Fonte: Página 12
Francielle Cruz - Comunicação UJS-Maringá