A adesão da Venezuela ao Mercosul é, para o governo Lula, a culminação de um processo histórico de adensamento das relações bilaterais que perpassou governos de distintos matizes políticos e ideológicos, tanto no País, quanto na Venezuela. A avaliação é dos senadores governistas um dia após da aprovação por 35 votos a 27, o projeto de adesão da Venezuela ao Mercosul.
Os senadores da base aliada acusam a oposição de insistir no quadro estreito do "chavismo" e do "antichavismo" para se colocarem contrários a entrada do País presidido por Hugo Chaves ao bloco econômico.
Favoráveis à participação do país vizinho no bloco, os petistas Aloizio Mercadante (SP), João Pedro (AM) e Eduardo Suplicy (SP) e Inácio Arruda (PCdoB-CE) comemoraram a decisão do parlamento e a importância da Venezuela nas relações comerciais com o Brasil.
Inácio Arruda considerou a votação histórica pelo fato de que, pela primeira vez, o bloco do Mercosul será ampliado. “E isso em um momento excepcional para a América do Sul, quando se consolida o processo democrático em toda a região e as lideranças políticas do campo popular têm alcançado vitória significativa”, observou.
Na avaliação de Inácio, o cenário na América do Sul é de estabilidade, democracia e consolidação. “Este é um gesto muito positivo do Brasil, dizendo que é preciso garantir mais espaço ao Mercosul. Que venham as outras nações, que participem aqui conosco, ampliando este espaço político, econômico e social, o que vai permitir, daqui a pouco, que os trabalhadores possam ter uma legislação em comum”, afirmou.
"Os governos passarão e a integração permanecerá", afirma Mercadante, repetindo o argumento utilizado pelos governistas para garantir a aprovação da matéria. Ele destacou que esse é menos um debate sobre questões da política interna da Venezuela do que sobre os interesses estratégicos do Estado brasileiro no tabuleiro internacional.
O parlamentar lembrou que o governo venezuelano tem privilegiado o Brasil como parceiro comercial na diversificação de suas fontes de abastecimento, concentradas anteriormente nos Estados Unidos e na Colômbia. A Venezuela importa em torno de 70% do que consome. A rejeição ao ingresso poderia reduzir a intensidade desse comércio.
Outro ponto ressaltado pelo líder foi a importância da Venezuela como fornecedora de energia para o Mercosul, já que esse país tem a sexta maior reserva de petróleo certificada do mundo, além de jazidas de gás natural.
O senador João Pedro rebateu as críticas da oposição sobre as ameaças à democracia e aos direitos humanos do governo de Hugo Chávez, Na opinião dele, tal avaliação está equivocada, porque pressupõe que o Mercosul é um clube de países-modelo em termos de democracia e direitos humanos.
Incorporação “natural”
Com a aprovação do Senado brasileiro, fica faltando apenas a anuência do parlamento do Paraguai para que o país efetivamente passe a integrar o bloco, pois Argentina e Uruguai também já deram sua aprovação.
A aproximação do Brasil à Venezuela, que pavimentou a sua entrada no Mercosul, começou no início dos anos 90, quando os presidentes Itamar Franco e Rafael Caldera assinaram o "Protocolo de La Guzmania".
Esse adensamento prosseguiu com vigor nos governos do PSDB. Em 1995, Fernando Henrique Cardoso, em discurso no parlamento da Venezuela, reconheceu que a incorporação daquele país ao Mercosul era algo "natural".
Vantagens
Com a Venezuela, o Mercosul se estenderá da Patagônia ao Caribe, com 270 milhões de habitantes (70% da população da América do Sul); PIB (Produto Interno Bruto) de US$2,3 trilhões (80% do PIB sul-americano) e território de 12,7 milhões de km2 (72% da área da América do Sul).
Para o Brasil, o ingresso da Venezuela no bloco vai fomentar integração fronteiriça, em especial com desenvolvimento da infra-estrutura, comércio bilateral e integração humana - a BR-174 é corredor natural para turistas entre o Norte do Brasil e o litoral venezuelano e o Caribe.
A Venezuela foi o 7º destino para exportações brasileiras (o 2º na América do Sul) este ano. Entre 2002 e 2008, as exportações para a Venezuela aumentaram 544%. Na pauta exportadora brasileira, a Venezuela foi o 2º comprador de celulares; 3º de carne de frango; 4º de automóveis; 2º de carne bovina; 3º de autopeças; 9º de veículos pesados e 6º de motores e transformadores.
A Venezuela está em processo de deslocamento de sua estrutura comercial, hoje muito ligada aos Estados Unidos, em direção ao Sul. Nesse contexto, Brasil e Venezuela estão desenvolvendo cooperação industrial voltada para a implantação de unidades industriais na Venezuela apoiada em exportações de bens de capital pelo Brasil.
Com reservas de 80 bilhões de barris de petróleo, a Venezuela é parceiro importante nesse setor. Existem acordos de cooperação entre a Petrobrás e a PDVSA nas áreas de produção, refino e comercialização. A entrada da Venezuela no MERCOSUL deverá contribuir para o aprofundamento da integração energética bilateral e regional.
Da sucursal de Brasília
Com agências